2010–2019
“Mais do que Vencedores, por Aquele que Nos Amou”
Abril 2011


“Mais do que Vencedores, por Aquele Que Nos Amou”

As provações não são apenas para nos testar. Elas são de importância vital no processo de obtenção da natureza divina.

A vida na Terra inclui testes, provações e tribulações, e algumas provações que enfrentamos podem ser muito dolorosas. Sejam enfermidades, traição, tentações, a perda de um ente querido, catástrofes naturais ou outras adversidades, a aflição faz parte de nossa vida mortal. Muitos se perguntam por que precisam enfrentar desafios tão difíceis. Sabemos que uma das razões é a de testar a nossa fé para ver se faremos tudo o que o Senhor nos ordena.1 Felizmente, a vida na Terra é o cenário perfeito para enfrentar — e passar — nesses testes.2

Mas essas provações não são apenas para nos testar. Elas são de importância vital no processo de obtenção da natureza divina.3 Se lidarmos devidamente com essas aflições, elas serão consagradas para nosso benefício.4

O Élder Orson F. Whitney disse: “Nenhuma dor que sofremos, nenhuma provação por que passamos será em vão. (…) Tudo o que sofremos e tudo o que suportamos, particularmente se o fizermos com paciência, edifica nosso caráter, purifica-nos o coração, expande nossa alma e nos torna mais ternos e caridosos, (…) e é por meio da dor e do sofrimento, do trabalho árduo e da tribulação, que obtemos a educação que aqui viemos receber”.5

Recentemente um menino de nove anos foi acometido de um raro tipo de câncer ósseo. O médico explicou o diagnóstico e o tratamento, que incluía meses de quimioterapia e algumas cirurgias de grande porte. Ele disse que seria um período muito difícil para o menino e sua família, mas depois acrescentou: “As pessoas me perguntam: ‘Serei o mesmo depois que isso terminar?’ Eu lhes digo: ‘Não, você não será o mesmo. Será muito, muito mais forte. Será muito fabuloso!’”

Às vezes, pode parecer que nossas provações se concentram em certos aspectos de nossa vida e de nossa alma com os quais pensávamos ser incapazes de lidar. Como o crescimento pessoal é um resultado esperado desses desafios, não deveríamos nos admirar que essas provações possam ser bem pessoais — como se fossem guiadas com precisão para nossas necessidades e fraquezas específicas. E ninguém está livre disso, especialmente os santos que se esforçam para fazer o que é certo. Alguns santos obedientes podem-se perguntar: “Por que eu? Estou tentando ser bom! Por que o Senhor está permitindo que isso aconteça?” A fornalha da aflição ajuda a purificar até os melhores santos, retirando as impurezas de sua vida até restar o ouro puro.6 Até os minérios mais ricos precisam ser refinados para remover impurezas. Ser bom não é o bastante. Queremos tornar-nos como o Salvador, que aprendeu ao sofrer “dores e aflições e tentações de toda espécie”.7

A Trilha Crimson, no desfiladeiro de Logan, é um dos meus passeios preferidos. A parte principal da trilha serpeia pelo alto de elevadas escarpas calcárias, de onde temos uma bela vista do desfiladeiro e do vale abaixo. Mas não é fácil chegar ao topo das escarpas. A trilha ali é uma subida constante, e pouco antes de chegar ao topo, o alpinista se depara com a parte mais íngreme da trilha, onde a vista do desfiladeiro fica oculta pelas próprias escarpas. O esforço final vale imensamente a pena, porque depois que o alpinista chega ao topo, a vista é de tirar o fôlego. O único modo de contemplar aquela vista é fazendo a escalada.

Um padrão nas escrituras e na vida mostra que muitas vezes os testes mais tenebrosos e perigosos vêm imediatamente antes de acontecimentos extraordinários e de imenso crescimento pessoal. “Após muitas tribulações vêm as bênçãos”.8 Os filhos de Israel ficaram encurralados diante do Mar Vermelho, antes de ele se abrir.9 Néfi enfrentou perigos, a ira de seus irmãos e vários fracassos antes de poder obter as placas de latão.10 Joseph Smith foi subjugado por um poder maligno tão forte que parecia estar destinado a uma completa destruição. Quando estava prestes a se entregar ao desespero ele se esforçou para invocar Deus e, naquele exato momento, recebeu a visita do Pai e do Filho.11 Frequentemente os pesquisadores enfrentam oposição e tribulação quando estão prestes a ser batizados. As mães sabem que os desafios do parto precedem o milagre do nascimento. Vez após vez vemos bênçãos maravilhosas logo após grandes provações.

Quando minha avó estava com aproximadamente dezenove anos, foi acometida de uma doença que a deixou muito mal. Mais tarde ela disse: “Não conseguia andar. Meu pé esquerdo ficou todo deformado depois de eu passar vários meses na cama. Os ossos estavam frágeis como uma esponja e, quando tocava o pé no chão, era como se tivesse tomado um choque”.12 Enquanto estava confinada ao leito e no auge de seu sofrimento, ela recebeu e estudou folhetos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Foi convertida e, mais tarde, foi batizada. Muitas vezes, um desafio pessoal ajuda a preparar-nos para algo de vital importância.

Em meio aos problemas, é quase impossível ver que as bênçãos reservadas são muito maiores do que a dor, a humilhação e o sofrimento que estamos vivenciando no momento. “Toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela”.13 O Apóstolo Paulo ensinou: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente”.14 É interessante notar que Paulo usa o termo “leve tribulação”. Isso foi dito por alguém que tinha sido espancado, apedrejado, que sofreu um naufrágio, foi aprisionado e sofreu muitas outras provações.15 Duvido que muitos de nós rotulariam nossas tribulações de leves. Mas em comparação às bênçãos e ao crescimento pessoal que teremos no final, tanto nesta vida quanto na eternidade, nossas aflições são verdadeiramente leves.

Não buscamos testes, problemas nem tribulações. Nossa jornada pessoal pela vida vai prover-nos a medida certa para nossas necessidades. Muitas provações são apenas uma parte natural de nossa existência mortal, mas desempenham um papel muito importante em nosso progresso.

Quando o ministério mortal do Salvador chegava ao fim, Ele passou pela provação mais difícil de todos os tempos: o incrível sofrimento no Getsêmani e no Gólgota. Isso precedeu a gloriosa Ressurreição e a promessa de que todos os nossos sofrimentos serão, um dia, eliminados. Seu sofrimento foi um pré-requisito para o sepulcro vazio da manhã de Páscoa e para a nossa futura imortalidade e vida eterna.

Às vezes queremos ter crescimento sem desafios e desenvolver forças sem nenhum esforço. Mas o crescimento não pode vir quando seguimos o caminho fácil. Compreendemos claramente que um atleta que não se submete a um treinamento rigoroso jamais se tornará um atleta de nível mundial. Precisamos tomar cuidado para não nos ressentirmos exatamente com as coisas que vão ajudar-nos a adquirir a natureza divina.

Nenhuma das provações e tribulações que enfrentamos estão além de nosso limite, porque temos acesso à ajuda do Senhor. Podemos fazer todas as coisas em Cristo que nos fortalece.16

Depois de se recuperar de graves problemas de saúde, o Élder Robert D. Hales contou o seguinte na conferência geral: “Em poucas ocasiões, disse ao Senhor que havia certamente aprendido as lições a serem ensinadas e que não seria necessário que eu passasse por mais sofrimento. Essas súplicas parecem ter sido em vão, porque me foi mostrado com clareza que esse processo de purificação e testes deveria ser suportado no tempo do Senhor e à maneira Dele. (…) Aprendi que eu não estaria só ao enfrentar essas provações e reveses, mas que anjos protetores me amparariam. De fato, algumas pessoas eram quase anjos em forma de médicos, enfermeiras e acima de tudo minha amada companheira, Mary. E, em alguns momentos, quando o Senhor assim desejou, fui consolado com visitas de hostes celestiais que me trouxeram consolo e tranquilidade eterna em minhas horas de necessidade”.17

Nosso Pai Celestial nos ama, e “[sabemos] que aqueles que confiarem em Deus serão auxiliados em suas tribulações e em suas dificuldades e em suas aflições; e serão elevados no último dia”.18 Um dia, quando chegarmos ao outro lado do véu, não queremos apenas que alguém nos diga: “Bem, está terminado”. Em vez disso, queremos que o Senhor diga: “Bem está, servo bom e fiel”.19

Adoro estas palavras de Paulo:

“Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? (…)

Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou”.20

Sei que Deus vive e que Seu Filho, Jesus Cristo, vive. Também sei que por meio da ajuda Deles podemos tornar-nos “mais do que vencedores” das tribulações que enfrentamos nesta vida. Podemos tornar-nos semelhantes a Eles. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

  1. Ver I Pedro 1:6–8; Abraão 3:25.

  2. Ver I Pedro 2:20.

  3. Ver II Pedro 1:4.

  4. Ver 2 Néfi 2:2.

  5. Orson F. Whitney, Spencer W. Kimball, Faith Precedes the Miracle, 1972, p. 98.

  6. Ver Isaías 48:10; 1 Néfi 20:10.

  7. Ver Alma 7:11–12.

  8. Doutrina e Convênios 58:4.

  9. Ver Êxodo 14:5–30.

  10. Ver 1 Néfi 3–4.

  11. Ver Joseph Smith—História 1:15–17.

  12. Amalie Hollenweger Amacher, história não publicada em posse do autor.

  13. Hebreus 12:11.

  14. II Coríntios 4:17.

  15. Ver II Coríntios 11:23–28.

  16. Ver Filipenses 4:13.

  17. Robert D. Hales, “O Convênio do Batismo: Estar no Reino e Ser do Reino”, A Liahona, janeiro de 2001, p. 6.

  18. Alma 36:3.

  19. Mateus 25:21.

  20. Romanos 8:35, 37.