1990–1999
Os Duplos Aspectos da Oração
October 1991


Os Duplos Aspectos da Oração

“Deus estabeleceu um canal de comunicação com seus filhos na terra, que Satanás, nosso inimigo comum, não pode invadir. É o canal da oração secreta.”

À medida que se fecha uma porta e outra se abre em minha vida, sinto-me agradecido, irmãos, por estar aqui convosco, nesta tarde, neste edifício histórico, de cujo púlpito todos os profetas da Igreja restaurada, com exceção tão somente de Joseph Smith, já falaram e prestaram testemunho. Eu não poderia fazer nada melhor do que rogar ao espírito que os moveu, que esteja também comigo, em meu breve discurso desta tarde.

Os alicerces de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias estão fundamentados na oração. Foi, por exemplo, a oração fervorosa de Joseph Smith que abriu a porta para a restauração do evangelho. A escritura básica encontrada no primeiro capítulo de Tiago, que inspirou Joseph a dirigir-se ao bosque para orar, define claramente as condições em que Deus responde a seus filhos. Nela está escrito que devemos pedir “com fé, não duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento e lançada de uma para outra parte” (Tiago 1:6). E adiciona este pós-escrito: “Não pense tal homem” — ou seja, o homem que duvida — “que receberá do Senhor alguma coisa”. (Tiago 1:7.)

Além desta escritura embrionária, que contém a chave para abrir a casa do tesouro do conhecimento e sabedoria de Deus, existem outras que fornecem mais definições sobre o princípio da oração e sua aplicação em nossa vida. Por exemplo, está escrito em Alma 34:27: “Sim, e quando não clamais ao Senhor, deixai que se encham vossos corações de constantes e fervorosas orações pelo vosso bem-estar, assim como pelo de todos os que vos rodeiam.” Vemos, assim, que mesmo quando não estamos orando formalmente, devemos ter uma oração no coração, onde quer que estejamos, seja o que for que façamos.

Outra escritura-chave sobre a oração, que mais do que uma admoestação é um mandamento, pode ser encontrada em Doutrina e Convênios, seção 19: “E outra vez, te ordeno que deverás orar, tanto oralmente como em teu coração; sim, tanto diante do mundo como em segredo; em público como em privado” (vers. 28).

Podemos perguntar: “Por que Deus achou necessário dar-nos o mandamento de orar tanto em voz alta como em segredo?”

Obviamente, a oração secreta é necessária em muitos casos, quando for inoportuno ou impraticável orar em voz alta. Portanto, se estivermos numa reunião social ou de negócios e precisarmos de conforto ou orientação, a prece secreta é geralmente nossa única alternativa.

Uma razão mais significativa, no entanto, para orarmos em segredo é encontrada em Doutrina e Convênios, seção 6, onde está escrito: “Sim, digo-te isto para que saibas que não há ninguém, a não ser Deus, que conheça os teus pensamentos e os intentos do teu coração” (vers. 16).

Outras escrituras ampliam este conceito, incluindo não só Deus, mas aqueles que ele inspira. Zeezrom, o astuto advogado ensinado por Alma e Amuleque, convenceu-se de que eles “conheciam suas intenções e os pensamentos de seu coração; porque lhes havia sido dado o poder de conhecer essas coisas segundo o espírito de profecia” (Alma 12:7).

É evidente, portanto, que Satanás e seus seguidores, que foram expulsos da presença de Deus e estão mortos para o espírito dele, não fazem parte daqueles que, pelo espírito de profecia e revelação, podem conhecer os pensamentos e intentos de nossos corações. Assim, em sua sabedoria e misericórdia, Deus estabeleceu um canal de comunicação, entre ele e seus filhos na terra, que Satanás, nosso inimigo comum, não pode invadir. É o canal da oração secreta. Para os santos dos últimos dias, isto tem um significado profundo, pois desta forma somos capazes de nos comunicar com o Pai Celestial em segredo, certos de que o adversário não pode interferir.

Há alguns anos, um rapaz que estava enamorado de uma bela jovem me pediu um conselho. Relutava em se casar, porque os pais da jovem haviam apostatado. Contou-me que a mãe da jovem lhe dissera saber que a Igreja não era verdadeira. Quando lhe perguntou como ficara sabendo, ela respondeu que certa vez uma voz lhe sussurrou ao ouvido que fosse a uma livraria próxima. Ela foi e lá encontrou um livro rancoroso, contrário ao mormonismo, de cuja leitura concluiu ser a Igreja falsa. Se esta irmã tivesse compreensão do evangelho, teria orado em segredo, relatando sua experiência e pedindo a Deus que lhe revelasse se sua conclusão era correta, da maneira prescrita na nona seção de Doutrina e Convênios (vide D&C 9:8-9).

David Whitmer contou que o Profeta Joseph Smith ensinara que “algumas revelações são de Deus; algumas revelações são do homem; e outras são do demônio”. (Em B. H. Roberts, Comprehensive History of the Church, 1:163-166.) Entretanto, embora Satanás possa transmitir pensamentos, não sabe se esses pensamentos criaram raízes, a menos que se reflitam em palavras ou ações.

Tudo isto sugere que devemos ser prudentes no que dizemos ou fazemos. Devemos ser prudentes também na forma como guardamos coisas preciosas que nos são reveladas por meio do Espírito. Por exemplo, quando o Presidente Heber J. Grant, ainda jovem, presidia a Estaca Tooele, o Patriarca John Rowberry lhe deu uma bênção especial. Mais tarde o patriarca disse ao Presidente Grant: “Vi algo que não ousei mencionar.” O Presidente Grant posteriormente registrou que lhe fora dado a conhecer, naquele momento, que um dia seria Presidente da Igreja. Ele jamais comentou esta revelação com alguém, nunca a registrou, só a revelando depois de realizada. (Vide Francis M. Gibbons, Heber J. Grant: Man of Steel, Prophet of God, Salt Lake City: Deseret Book Co., 1979, p. viii.) Como ele foi sábio, pois se tivesse revelado isso a outras pessoas, Satanás, seu inimigo, teria sabido, e, com tal conhecimento, poderia ter criado dificuldades inimagináveis para ele.

Muitas vezes falamos demais. Dizemos coisas que não precisam ou não deveriam ser ditas; pois, dizendo-as, podemos abrir uma fenda que permitirá a Lúcifer infiltrar-se em nossa vida. Aprendemos em 2 Néfi que Satanás “procura tomar todos os homens tão miseráveis como ele próprio” (2 Néfi 2:27). Satanás e seus seguidores são persistentes em seu objetivo de arrastar-nos para seu próprio nível. Eles usarão qualquer meio ou artifício para atingir seus fins. Se tiverem conhecimento, por exemplo, de revelações como aquela dada ao Presidente Grant, ou encontrarem evidências de animosidade, ódio ou discórdia entre nós, por nossas palavras e ações, poderão aproveitar-se disso para nos prejudicar. A sabedoria sugere, portanto, que suprimamos as palavras e ações que possam permitir a Satanás prejudicar-nos, ou cuja tendência seja a de criar discórdia ou inimizade.

Durante muitos anos conhecemos e admiramos um casal que nos parecia feliz e bem ajustado. Foi com surpresa que ficamos sabendo que o relacionamento deles estava repleto de discórdia e rancor, devido a brigas e críticas constantes. Desta forma, haviam quebrado os elos de amor que os unira e, fazendo isso destruíram a auto-estima um do outro, abrindo a porta para Satanás.

Quão melhor é seguir as admoestações do Salvador e falar com bondade e amor, criando em nossos lares um céu em meio ao tumulto do mundo, constantemente agitado pelas intrigas de nosso inimigo comum. E quão melhor é salientar as coisas positivas, focalizando nelas nossa atenção, ao invés de salientar as negativas, edificando-nos e protegendo-nos mutuamente, minimizando a oportunidade da intrusão de influências satânicas em nossa vida. Que possamos todos fazer isso, eu oro em nome de Jesus Cristo, amém.