1990–1999
Um Discípulo, Um Amigo
April 1998


Um Discípulo, Um Amigo

O que realmente importa não é como os outros nos definem, mas como o Salvador nos define.

Há alguns anos, quando eu trabalhava no mundo dos negócios, o diretor de nosso departamento pessoal, que era católico devoto, entrou em meu escritório com sua secretária, Darlene. Prontamente percebi que Darlene não se achava ali por vontade própria e preferia estar em qualquer outro lugar. As primeiras palavras do diretor foram: “Quer, por favor, dizer a Darlene que os mórmons são cristãos? Estou discutindo isso com ela há mais de meia hora e ainda não consegui convencê-la. Ela precisa ouvir de você”.

Minha primeira preocupação foi: “Será que fiz alguma coisa que fizesse a Darlene questionar minha fé e lealdade ao Salvador?” Logo, porém, percebi que suas dúvidas não eram dirigidas a mim.

Após pedir que se sentassem, perguntei a Darlene por que ela pensava que nós não éramos cristãos. Sua resposta foi que o ministro de sua religião dissera isso. Perguntei se ela sabia o nome oficial da Igreja. Ela não sabia; conhecia a Igreja só pelo nome Mórmon. Expliquei-lhe que o nome era A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e perguntei se esse nome não parecia um pouco estranho para uma igreja supostamente não cristã. Depois, perguntei a meu amigo católico se ele poderia explicar a ela algumas coisas que ficara sabendo durante nossas muitas horas de conversas em aviões, hotéis, jantares e outras ocasiões e que relacionavam a Cristo e Seus ensinamentos a nossas crenças. Ele fez uma explanação talvez de maior credibilidade do que eu poderia ter feito.

A resposta de Darlene foi que seu ministro dissera que nós não acreditávamos na Bíblia e que a tínhamos substituído pelo Livro de Mórmon. Respondi repetindo para ela a nossa oitava regra de fé: “Cremos ser a Bíblia a palavra de Deus, desde que esteja traduzida corretamente; também cremos ser o Livro de Mórmon a palavra de Deus”.

Expliquei-lhe que o Livro de Mórmon continha mais escrituras que complementavam a Bíblia e davam mais um testemunho de Cristo. Disse que o livro explicava e esclarecia muitos dos ensinamentos mais sagrados e importantes de Cristo. Sua resposta foi: “Meu ministro diz que o Livro de Mórmon não pode conter os ensinamentos de Cristo porque não pode ter havido quaisquer outras revelações após a morte dos Apóstolos e, assim, nenhum outro livro de escritura depois da Bíblia”. Minha resposta para ela foi: “Numa época de mudanças tão rápidas neste mundo turbulento e perturbado, com tantos problemas desconcertantes, você não acha estranho que o Pai interrompesse a comunicação com Seus filhos queridos, que Ele amou o suficiente para sacrificar Seu Filho Unigénito por eles?” A conversa continuou por mais 15 ou 20 minutos, com minha tentativa de explicar nossa interpretação literal da Expiação, Ressurreição e outras doutrinas importantes do Salvador. Encerrei com o mais forte testemunho que poderia prestar de um Pai de amor e um Filho obediente.

No final de nossa conversa, sua resposta foi a mesma: “Meu ministro falou e acredito no que ele disse”. E assim o assunto encerrou-se, deixando-me desapontado e um pouco perturbado pelo mal-entendido.

É interessante como a má interpretação de alguns pode, inocente ou propositadamente, desviar muitos. Talvez seja melhor deixar o julgamento da intenção e da consciência das pessoas para o justo Juiz de todos nós. Com certeza, a determinação final de quem é discípulo verdadeiro de Cristo será deixada para o Salvador, que disse: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas”. (João 10:14)

Depois que lhe apresentaram algumas doutrinas básicas da Igreja, o Reverendo Charles Taylor, um ministro amigo meu, telefonou-me para contar como sua compreensão do evangelho fora esclarecida. Animado, ele afirmou: “Quando se despende o tempo necessário para estudar os ensinamentos e as doutrinas da Igreja Mórmon, torna-se claro que os mórmons são verdadeiros cristãos. Na verdade, nunca vi pessoas mais cristãs do que os mórmons que tenho conhecido ultimamente”.

Respondi que gostaria de saber de seus sentimentos e opiniões depois que ele tivesse a oportunidade de ler o Livro de Mórmon e observasse o testemunho e ensinamentos do Salvador nele contidos. Sua resposta foi: “Já estou lendo o Livro de Mórmon. É magnífico. Ele aumentou minha compreensão de Cristo e de Sua missão. Sinto um espírito maravilhoso durante a leitura”.

Meu amigo despendeu tempo para aprender por si mesmo antes de formar uma opinião. Ele não tentou influenciar as pessoas baseando-se em falta de compreensão e concepção errônea. Pareceu-me um ato responsável o de procurar compreender antes de julgar e, com certeza, antes de tentar convencer outras pessoas de suas próprias concepções errôneas.

Para minha amiga Darlene, gostaria de reafirmar que Jesus Cristo está no centro de cada doutrina, cada ordenança e cada princípio da Igreja, como o próprio nome dela sugere. O Livro de Mórmon testifica a respeito de Jesus Cristo, dando ênfase e clareza a Seus ensinamentos. Um profeta do Livro de Mórmon, Néfi, declarou ao mundo: “E falamos de Cristo, regozijamo-nos em Cristo, pregamos a Cristo, profetizamos de Cristo e escrevemos de acordo com nossas profecias, para que nossos filhos saibam em que fonte procurar a remissão de seus pecados”. (2 Néfi 25:26)

Néfi afirmou, ainda: “Não há outro nome dado debaixo do céu mediante o qual o homem possa ser salvo, a não ser o deste Jesus Cristo do qual falei”. (2 Néfi 25:20)

Ao longo dos anos, tenho ponde-rado a experiência com Darlene, perturbado com seu desfecho. Contudo, desde aquela época concluí que os pontos de vista baseados em más interpretações e ensinamentos enganosos não deveriam perturbar-me, exceto com respeito a minha responsabilidade de tentar esclarecer essas concepções errôneas. O que realmente importa não é como os outros nos definem, mas como o Salvador nos define. Assim, a questão é: Como Ele vê cada um de nós, individualmente?

Portanto, como membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, precisamos concentrar nossas preocupações em nosso relacionamento com o Pai Celestial e o Salvador Jesus Cristo.

Nos últimos instantes de sua vida íntegra e exemplar, com toda a força que conseguiu reunir, meu pai sussurrou com voz quase inaudível: “Só espero que o Salvador me ache digno de ser chamado Seu amigo”. Ah! Ser chamado amigo do Salvador! Assim como meu pai ansiava, também eu desejo saber: Será que Cristo me contaria como uma de Suas ovelhas? Será que Ele acharia que eu estou lutando para agir de acordo com Seus ensinamentos e viver Seus princípios divinos? Ele me chamaria de discípulo? Ele me chamaria de amigo? Isso é o que realmente importa.

O Salvador estabeleceu os critérios para termos Sua amizade, no capítulo 15 de João, onde Ele diz: “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando”. (João 15:14) Ele indicou-nos a prova definitiva, quando disse: “Por seus frutos os conhecereis”. (Mateus 7:16; ver também versículos 17-18, 20.) É dessa forma que todos nós seremos julgados — por nossos frutos, bons ou maus. No julgamento final, se nossos frutos assim o permitirem, seremos convidados a sentar-nos à mão direita de Deus. Lá, acredito eu, estarão Seus amigos.

Se nós, mesmo de maneira fraca e cambaleante, estivermos honestamente tentando levar uma vida cristã, o modo como as pessoas decidem descrever-nos deve ser de pouca importância. A responsabilidade por nosso caráter cristão é nossa. As pessoas podem definir-nos como quiserem, mas o verdadeiro e justo Juiz nos julgará como somos. Cabe a nós, e não a qualquer outra pessoa, determinar se somos discípulos.

Quando fomos batizados, cada um de nós tomou voluntariamente sobre si o nome de Cristo. O ato de tomar Seu nome sobre nós resulta no convênio de seguir Seus ensinamentos. Temos a oportunidade de renovar nossos convênios e fazer um exame em nossa vida diária toda vez que tomamos o sacramento.

Todos podemos fazer a nós mesmos as clássicas perguntas: Estamos orando diariamente, individualmente e em família? Estamos lendo as escrituras? Estamos realizando a noite familiar e pagando o dízimo? A lista continua. A pergunta crucial, porém, é: Estamos tornando-nos discípulos? Estamos tornando-nos amigos?

Alma perguntou: “Haveis nascido espiritualmente de Deus? Haveis recebido sua imagem em vosso semblante? Haveis experimentado esta poderosa mudança em vosso coração?” (Alma 5:14) O acontecimento fundamental é a mudança no coração, uma mudança que resulte numa mudança de vida.

As indagações subseqüentes de Alma passaram do geral para o específico. Ele perguntou:

  • “Tende-vos conservado inocentes diante de Deus?”

  • “Se fôsseis chamados pela morte neste momento, (…) haveis sido suficientemente humildes?”

  • “Estais despidos de orgulho?”

Hoje, poderíamos acrescentar a essas perguntas:

  • Amamos nossos irmãos como a nós mesmos?

  • Somos totalmente honestos nos negócios e em outros relacionamentos?

  • Estamos colocando nossa família à frente de nossos interesses?

  • Acaso fizemos algo de bom para o mundo hoje?

  • Estamos seguindo as admoestações e ensinamentos do profeta?

Realmente, a questão é: nossas atitudes manifestam uma vida cristã? Não é suficiente apenas falar de Cristo, pregar Cristo, ou mesmo profetizar de Cristo. (Ver 2 Néfi 25:26.) Devemos viver como Cristo, pois é por nossa vida particular diária que o Senhor determinará se somos Seus verdadeiros discípulos e amigos.

Para as Darlenes do mundo, manifesto minha esperança de que nossos frutos mereçam ser chamados de cristãos. E para nós, que somos membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, espero que nossas realizações, nossos atos, nosso coração e nosso semblante estejam de acordo com os ensinamentos do Salvador e demonstrem nossa gratidão por Seu grandioso sacrifício por todos nós.

Para aqueles que desejam saber que posição Cristo ocupa em nossa teologia e em nossa vida individual, testificamos que Cristo é o Redentor do mundo. Ele é o nosso Senhor, nossa Luz e nosso Salvador. Ele foi ordenado do alto e desceu abaixo de todas as coisas a fim de sofrer acima de tudo! Ele é o ponto central de tudo o que ensinamos e tudo o que fazemos. Como Igreja, somos pessoas cristãs tentando provar que somos discípulos do Salvador. Devemos fazê-lo individualmente e não coletivamente.

Meu testemunho é que Ele viveú, Ele morreu e Ele vive. Ele expiou por nossos pecados. É minha oração que cada um de nós viva a sua vida e cumpra as suas devoções de modo a ser claramente reconhecido, por membros e não-membros, como verdadeiro discípulo do Cristo vivo. Mais importante ainda, oro para que sejamos assim reconhecidos pelo verdadeiro e justo Juiz de nós todos, o Senhor Jesus Cristo. Que maior recompensa podemos receber do que sermos aceitos por Ele como servo verdadeiro e fiei, um discípulo, um amigo? Em nome de Jesus Cristo. Amém.