2023
Brasileiros fazem parte do Coro do Tabernáculo da Praça do Templo
Outubro de 2023


Brasileiros fazem parte do Coro do Tabernáculo da Praça do Templo

OCoro do Tabernáculo da Praça do Templo é um dos coros mais antigos e respeitados dos Estados Unidos. Foi fundado em 1847, logo após a chegada dos pioneiros da Igreja a Salt Lake City. Seu nome é derivado do local de suas primeiras apresentações, o Tabernáculo da Praça do Templo, lugar onde antigamente acontecia a conferência geral. O Tabernáculo é conhecido por sua acústica excepcionalmente boa.

O grupo é composto por aproximadamente 360 vozes, incluindo sopranos, contraltos, tenores e baixos. Os membros do coro são voluntários e são selecionados por meio de audições rigorosas. Eles dedicam várias horas por semana a ensaios e apresentações.

O coro é reconhecido internacionalmente por sua excelência vocal, precisão e poder emocional. Suas apresentações são transmitidas em todo o mundo, tanto por meio de gravações como em transmissões ao vivo de suas apresentações na conferência geral. Na Conferência Geral de Abril de 2023, brasileiros fi zeram parte do Coro do Tabernáculo da Praça do Templo.

Álvaro Jorge Martins Júnior

Ao receber a Liahona de maio de 2023, fi quei animado ao perceber que minha imagem estava em uma das fotos publicadas. Comentei bem humoradamente com minha esposa: “A pessoa passa 40 anos para fi nalmente aparecer na Liahona e, quando aparece, é fazendo cara de choro”. Brincadeiras à parte, aquela fotografi a eterniza com beleza e sensibilidade o exato momento em que o coro mais amado do mundo – na minha opinião – cantou “Deus vos Guarde” em despedida para nós, os dez participantes internacionais que viajaram de países distantes para se unirem a eles em Salt Lake City, na Conferência Geral de Abril de 2023, em testemunho e discipulado do Salvador Jesus Cristo. Era impossível não nos emocionar profundamente.

Desde criança sinto que os hinos da Igreja me aproximam dos céus de uma maneira que até hoje não consigo explicar bem. Lembro-me de querer aprender cada uma das canções do hinário da primária, e me orgulho em dizer que aprendi todas. Suas melodias e ensinamentos têm ecoado em minha mente e em meu coração de maneira positiva, infl uenciando-me para o bem. Desde então posso afi rmar que váriasr revelações pessoais e familiares foram por mim recebidas através da música divinamente inspirada.

Sou um grande defensor e incentivador da música de qualidade na Igreja. Eu me lembro de, como missionário de tempo integral, fazer o exercício de identifi car a saúde espiritual de uma ala ou ramo pelo entusiasmo com o qual entoavam os hinos na reunião sacramental. Afi nal de contas, “o canto dos justos é uma prece” ao Senhor, e Ele se deleita, derramando sobre aqueles Suas bênçãos (ver Doutrina e Convênios 25:12).

O élder Bruce R. McConkie certa vez disse que “a música faz parte da linguagem dos Deuses”. Tenho um forte testemunho disso.

Falando um pouco mais sobre minhas experiências com o Coro do Tabernáculo da Praça do Templo, preciso primeiro relatar que, embora tenha sido convidado a ser um dos participantes internacionais, eu já fazia parte do grupo efetivo que ensaia e apresenta regularmente em Salt Lake City. Enquanto morava em Utah, fiquei sabendo do processo de audições. Embora tivesse muito desejo, nunca imaginei que pudesse de fato ingressar num grupo cuja seleção parecia tão difícil. No último dia de inscrições, minha esposa, Raissa, me perguntou se eu já havia feito a minha inscrição. Ao saber de minha inércia e conhecendo meu amor pela música e pelo coro, ela insistiu: “Você vai se arrepender se ao menos não tentar. Não vai se perdoar por ter deixado passar a oportunidade”. Num influx de coragem, cedi, destravando aquela janela por onde tão grandiosas bençãos se preparavam para entrar.

O processo de audições possui quatro fases: na primeira, o candidato envia uma série de gravações com objetivos e exercícios pré-definidos, além de uma recomendação eclesiástica. A segunda consiste num extenso teste escrito de teoria, percepção e aptidão musical. A terceira fase, e a mais temida na minha opinião, é a avaliação pessoal com Mack Wilberg e Ryan Murphy, os diretores musicais do coro.

A cada fase das audições, pulos de alegria e abraços calorosos animavam a casa ao recebermos os e-mails de aprovação. Ainda os guardo com carinho.

Ter sido finalmente designado como Missionário do Coro do Tabernáculo me fez relembrar do mesmo sentimento que tive quando fui designado como missionário de tempo integral há 20 anos, um misto de realização e senso de responsabilidade, um desejo gigante de fazer o bem e ser um bom representante do Salvador e de Sua Igreja. Em novembro de 2022, o coro revelou uma declaração de missão ampliada: “O Coro do Tabernáculo da Praça do Templo executa música que inspira as pessoas em todo o mundo a se aproximar do Divino e sentir o amor de Deus por seus filhos”.

Ter retornado ao Brasil após uma temporada de quase três anos em Utah foi ao mesmo tempo maravilhoso e um pouco doloroso, em especial por ter que deixar a participação semanal nos ensaios e apresentações do coro. Mas qual não foi minha surpresa ao receber o comunicado do coro me informando sobre o projeto-piloto dos participantes internacionais e de minha participação como um dos pioneiros.

Éramos um grupo de dez cantores de vários lugares do mundo, como Brasil, México, Filipinas, Gana, Taiwan e Malásia. Tivemos uma agenda replete de compromissos que incluíam desde visita a locais importantes para a história e o funcionamento da Igreja até entrevistas, podcasts, reuniões com líderes do escritório da Igreja e a fantástica oportunidade de conversarmos com o presidente Dallin H. Oaks e sua esposa e cantarmos para eles.

Os dias passaram rápido, e a conferência geral se aproximava. A dificuldade natural de memorizar 15 hinos em um idioma que não é o nativo fazia com que cada um de nós buscasse as bênçãos e os milagres dos céus, e sabíamos que ao fazermos o nosso máximo após tantos anos de serviço e aprendizado na música da Igreja, o Senhor nos completaria para sermos contados entre os “anjos” que tantos afirmam ouvir junto ao coro.

As sessões foram belíssimas. O espírito estava muito forte e, no meu caso, a experiência foi ainda mais marcante com o anúncio do Templo de Natal pelo presidente Nelson. Acreditem, foi bem difícil manter a compostura esperada de um membro do coro estando ali por trás do púlpito ao ouvir uma notícia pela qual tanto foi feito e tanto se orou.

É como o presidente Nelson nos receitou: “Tomem suas vitaminas!” Essa é uma Igreja de milagres, e muita coisa boa ainda está para acontecer entre os filhos dos homens.

Rodrigo Domaredzky

Sou de Curitiba e servi na Missão Brasil Porto Alegre Sul de 2014 a 2016. Sou casado com a Gabriela há três anos. Desde que me conheço por gente, gusto de música. Minha mãe sempre foi muito musical e incentivou minhas três irmãs e eu a estudar música desde que éramos crianças. Aos 3 anos de idade, fi z aulas de musicalização e, aos 7 anos, comecei a estudar piano. Quando era jovem, comecei a cantar nos coros da estaca com a minha mãe regendo e nunca mais parei. Hoje sou o líder de música da minha estaca e organizo coros na Igreja há dez anos.

Em setembro de 2022, fi quei sabendo sobre o projeto-piloto para o qual o Coro do Tabernáculo da Praça do Templo estava procurando cantores de vários lugares do mundo para cantar na Conferência Geral de Abril de 2023. Quando ouvi essas palavras, o meu queixo caiu.

Pensei: “Eu estou sendo considerado para cantar com o Coro do Tabernáculo da Praça do Templo?” Nem nos meus melhores sonhos eu poderia esperar por uma oportunidade como essa!

O processo de audição e seleção dos cantores começou em outubro e só acabou em dezembro. Entre as etapas do processo estavam duas entrevistas, o envio de diversos áudios fazendo exercícios vocais e cantando partes específi cas de hinos solicitados pela organização do coro e uma audição por vídeo com um dos regentes do coro, Ryan Murphy. A cada etapa que eu ia avançando, mais inacreditável era pensar que eu poderia, de fato, cantar com o coro que eu ouço desde criancinha. Em dezembro, fi nalmente a resposta fi nal chegou. Eu e mais nove pessoas de partes diferentes do planeta fomos chamados para cantar na conferência geral de abril. Eu lembro que nesse dia eu não conseguia parar de sorrir.

Meu chamado seria de participante internacional do Coro do Tabernáculo. Algumas semanas antes da viagem, recebemos arquivos de estudo para aprendermos os hinos e decorar a letra. Naquele momento começou o primeiro grande desafi o: decorar 15 hinos com arranjos difíceis e ainda em inglês. Eu escutava os hinos no carro, em casa, no trabalho e sempre que a ocasião me permitia.

Nosso grupo de participantes internacionais consistiu em três brasileiros, duas mexicanas, dois fi lipinos, um malaio, um ganês e uma taiwanesa. Desde o começo, todos nos demos muito bem, já éramos grandes amigos, mas, no fi nal, nos transformamos numa família de irmãos e irmãs do mundo todo.

Nós nos preparávamos todos os dias antes da conferência para o grande momento em que iríamos nos apresentar. Quando o primeiro fi nal de semana de abril chegou, minha animação estava no seu ápice. Entrar no centro de conferências, estar com a roupa do coro e ter um lugar reservado para mim pareciam coisas de outro mundo. Se alguém me contasse alguns meses antes que isso ia acontecer na minha vida, eu não ia acreditar. Quando a conferência começou e o presidente Oaks anunciou que haveria participantes internacionais se unindo ao coro do tabernáculo representando seu país, senti ainda mais forte a responsabilidade que tive de representar o Brasil naquele grupo de cantores magnífico. Algumas pessoas me perguntaram o motivo pelo qual fomos convidados para cantar com o coro, e o motivo principal é que a Igreja é uma Igreja mundial, e uma das novas missões do coro é que ele represente os membros da Igreja do mundo inteiro. Fazer parte desse programa me fez sentir ainda mais forte que Deus conhece e ama todos os seus filhos, seja nas Filipinas, em Taiwan, no México ou mesmo no Brasil. Viver essa experiência fortaleceu meu testemunho e renovou a minha vontade de servir ainda mais no meu país e na minha cidade. No meu diário, no segundo dia que eu estava lá, escrevi as seguintes palavras que descrevem perfeitamente os sentimentos de fazer parte desse programa: “Quero deixar registrado aqui que o que eu vivi hoje foram alguns dos momentos mais felizes da minha vida. Foi um momento em que eu me senti completo e realizado. Nunca achei que eu poderia viver uma experiência como essa, mas aqui estou. Tenho tentado aproveitar cada dia mais. Meu coração transborda de alegria e gratidão ao Senhor por permitir que eu faça parte de tudo isso”.

Mesmo hoje, meses depois dessa experiência, esses sentimentos ecoam pelo meu coração com gratidão. Sei que o Senhor tem um propósito para cada um de nós e que Ele conhece nosso coração e nos abençoa. Sou grato pela música, que é uma língua universal, que pode unir as pessoas não só de todo o mundo, mas também de todas as fés e crenças. Conheço o poder da música e busco todos os dias ser uma ferramenta nas mãos do Senhor para abençoar a vida das pessoas à minha volta através dela.