Instituto
Capítulo 3: Doutrina e Convênios 3; 10


Capítulo 3

Doutrina e Convênios 310

Introdução e cronologia

No verão de 1828, Martin Harris saiu de Harmony, Pensilvânia, com 116 páginas do manuscrito do Livro de Mórmon para mostrar aos membros de sua família que moravam em Palmyra, Nova York. Quando Martin não voltou para Harmony no horário designado, Joseph Smith viajou para a casa de seus pais em Manchester, Nova York, onde ficou sabendo que Martin havia perdido as páginas do manuscrito. Joseph ficou perturbado e partiu para sua casa em Harmony no dia seguinte. Depois de chegar lá em julho de 1829, o profeta recebeu a revelação registrada em Doutrina e Convênios 3. Nessa revelação o Senhor repreendeu Joseph e lhe disse que ele havia perdido o privilégio de traduzir por certo tempo, mas o Senhor também o tranquilizou, dizendo: “És ainda escolhido; e és chamado à obra outra vez” (D&C 3:10). Além disso, o Senhor explicou Seu propósito de trazer à luz o Livro de Mórmon e declarou que Sua obra iria prevalecer apesar da iniquidade dos homens.

Depois que Joseph Smith passou “por certo tempo” de arrependimento (D&C 3:14), as placas do Livro de Mórmon, que Morôni havia tirado dele na época em que o manuscrito foi perdido, foram devolvidas e ele novamente recebeu o dom de traduzir. Por volta de abril de 1829, depois de retomar a tradução, Joseph recebeu a revelação registrada em Doutrina e Convênios 10 (trechos dessa revelação podem ter sido recebidos já no verão de 1828). Nessa revelação, o Senhor ordenou que Joseph não traduzisse novamente as páginas do manuscrito perdido. O profeta tomou conhecimento de que preparativos inspirados tinham sido feitos no passado para compensar o manuscrito perdido e preservar a mensagem do Livro de Mórmon.

14 de junho de 1828Martin Harris leva as 116 páginas do manuscrito do Livro de Mórmon de Harmony, Pensilvânia, para Palmyra, Nova York.

Julho de 1828Joseph Smith viaja para Manchester, Nova York, e fica sabendo que o manuscrito tinha sido perdido.

Julho de 1828Joseph Smith retorna para Harmony, Pensilvânia, e recebe Doutrina e Convênios 3.

22 de setembro de 1828Tendo perdido as placas de ouro e o Urim e Tumim depois de sua transgressão envolvendo o manuscrito, Joseph Smith os recebe novamente de Morôni.

Abril de 1829Oliver Cowdery chega a Harmony para ajudar com a tradução do Livro de Mórmon.

Abril de 1829Doutrina e Convênios 10 é recebida (trechos podem ter sido recebidos já no verão de 1828).

Doutrina e Convênios 3: Contexto histórico adicional

O profeta Joseph Smith obteve as placas de ouro em setembro de 1827 enquanto ele e sua esposa, Emma Hale Smith, moravam na casa dos pais de Joseph, perto de Palmyra, Nova York. Em dezembro de 1827, a perseguição crescente, incluindo tentativas de roubar as placas, fizeram com que Joseph e Emma se mudassem para Harmony, Pensilvânia, onde os pais de Emma moravam. Martin Harris, um próspero fazendeiro e homem de negócios em Palmyra, foi um dos primeiros incentivadores do profeta e forneceu ajuda financeira para auxiliar com a mudança.

Em fevereiro de 1828, Martin Harris viajou para Harmony e recebeu uma cópia de alguns dos caracteres antigos que Joseph havia transcrito das placas de ouro, com a tradução do profeta desses caracteres. Martin foi até a cidade de Nova York para se reunir com os estudiosos professor Charles Anthon e Dr. Samuel Mitchell (ou Mitchill), que tinham algum conhecimento sobre civilizações e idiomas antigos (ver Joseph Smith—História 1:63–65). Martin mais tarde serviu como escrevente do profeta de abril a junho de 1828, enquanto Joseph traduziu a primeira parte do Livro de Mórmon. Nessa época, a esposa de Martin tinha se tornado cada vez mais cética sobre o apoio do marido a Joseph e sobre o interesse de Martin e seu envolvimento financeiro no trabalho de tradução das placas. Para acalmar suas preocupações, Martin suplicou a Joseph que pedisse permissão ao Senhor para Martin levar as 116 páginas do manuscrito traduzido a fim de mostrar a sua esposa e outros familiares como prova.

O profeta Joseph Smith deu o seguinte relato: “Eu perguntei e a resposta foi que ele não deveria. Contudo, ele não ficou satisfeito com essa resposta e desejou que eu perguntasse novamente. Eu o fiz, e a resposta foi a mesma. Ainda assim, ele não se contentou, mas insistiu que eu perguntasse mais uma vez. Depois de muitos pedidos, perguntei novamente ao Senhor, e a permissão foi concedida a ele para que ele tivesse os escritos sob certas condições” (Manuscript History of the Church [Manuscrito da História da Igreja], vol. A-1, página 9, josephsmithpapers.org). Joseph fez com que Martin Harris prometesse que somente mostraria o manuscrito para sua esposa, seu irmão, Preserved Harris, seus pais: Nathan e Rhoda Harris, e a irmã de sua esposa, Mary Harris Cobb (ver The Joseph Smith Papers, Documents, Volume 1: July 1828–June 1831, comp. por Michael Hubbard MacKay e outros, 2013, p. 6, nota de rodapé 25).

Martin Harris voltou para casa em Palmyra, Nova York, com o manuscrito de 116 páginas. No dia seguinte depois da partida de Martin, Emma Smith deu à luz a um filho, que faleceu logo após o nascimento. Emma também quase morreu, e Joseph ficou à cabeceira de sua cama por várias semanas. No início de julho de 1828, Martin já havia viajado há três semanas e ainda não tinham recebido notícias dele. Emma, que se recuperava aos poucos, convenceu Joseph a ir para Nova York para descobrir por que Martin não havia mandado notícias. Joseph viajou para a casa de seus pais e pediu que chamassem Martin.

Imagem
lápide do filho recém-nascido de Joseph e Emma Smith

O filho recém-nascido de Joseph e Emma Smith foi enterrado no McKune Cemetary, perto de sua casa em Harmony, Pensilvânia, em junho de 1828 (fotografia aproximadamente 1897–1927).

Cortesia da Biblioteca e Arquivos de História da Igreja

Lucy Mack Smith, mãe do profeta Joseph Smith, registrou que a família esperava que Martin chegasse para o desjejum, arrumaram a mesa e esperaram, mas ele demorou a manhã inteira para chegar. Quando ele finalmente chegou, ele se sentou e “pegou o garfo e a faca, como se fosse usá-los, mas largou-os logo em seguida”. Quando indagado se estava bem, Martin Harris “clamou profundamente angustiado, ‘Oh! Perdi minha alma! Perdi minha alma!’

Joseph, que não havia expressado seus temores até então, ergueu-se da mesa de um salto, exclamando: ‘Martin, você perdeu aquele manuscrito? Quebrou seu juramento, trazendo condenação sobre a minha cabeça e a sua cabeça?’

‘Sim’, respondeu Martin, ‘ele desapareceu, não sei onde está’”.

Tomado pelo medo e pela culpa, Joseph exclamou: “‘Tudo está perdido! Tudo está perdido! O que farei? Pequei. Fui eu que desafiei a ira de Deus. Devia ter-me contentado com a primeira resposta que recebi do Senhor, pois Ele me disse que não era seguro deixar que o manuscrito saísse de minhas mãos’. Chorou e lamentou-se, andando continuamente de um lado para o outro.

Por fim, disse a Martin que voltasse para casa e procurasse novamente.

‘Não’, disse Martin, ‘é inútil, já procurei por toda a casa. Já cheguei a rasgar os colchões e travesseiros [à procura do manuscrito]. Sei que não está lá’.

‘Então’, disse Joseph, ‘devo voltar para minha esposa com essa notícia? Não ouso fazê-lo. Como irei encarar o Senhor? Que reprimenda não mereço do anjo do Altíssimo?’” (“Lucy Mack Smith, History, 1844–1845” [Lucy Mack Smith, História, 1844–1845], livro 7, páginas 5–6, josephsmithpapers.org; grafia, pontuação, maiúsculas e parágrafos padronizados.)

Depois de voltar para casa em Harmony, Pensilvânia, sem as páginas do manuscrito, Joseph Smith derramou sua alma a Deus pedindo perdão. O mensageiro celestial, Morôni, apareceu a Joseph e lhe deu os intérpretes ou o Urim e Tumim que Joseph tinha usado durante a tradução. O Urim e Tumim tinham sido tirados de Joseph por ele ter “aborrecido o Senhor pedindo pelo privilégio de deixar Martin levar os escritos” (em Manuscript History of the Church, vol. A-1, página 10, josephsmithpapers.org). Depois que Morôni apareceu e devolveu o Urim e Tumim, Joseph recebeu a revelação registrada em Doutrina e Convênios 3.

Imagem
Mapa 3: nordeste dos Estados Unidos
Imagem
Mapa 4: Palmyra-Manchester, Nova York, 1820–1831

Doutrina e Convênios 3

O Senhor declara que Seu trabalho não pode ser frustrado e repreende Joseph Smith

Doutrina e Convênios 3:1–3. “Os propósitos de Deus não podem ser frustrados”

Joseph Smith provavelmente considerava a perda das 116 páginas do manuscrito como uma grande pedra de tropeço para o plano do Senhor de trazer à luz o Livro de Mórmon. No entanto, o Senhor assegurou a Seu profeta que nada poderia frustrar ou destruir os propósitos e a obra de Deus. Um atributo importante do caráter de Deus é Sua onisciência, incluindo Sua presciência. Não há nada que o homem ou Satanás possa fazer que surpreenda a Deus ou possa impedi-Lo de realizar Seus propósitos. Ele conhece todas as coisas, porque todas as coisas estão diante Dele, incluindo as coisas “passadas, presentes e futuras” (D&C 130:7; ver também D&C 38:2; 88:41). O élder Neal A. Maxwell (1926–2004), do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou por que a obra de Deus não pode ser frustrada: “Os sucessos e os fracassos do homem foram conhecidos desde o início pelo Senhor e foram levados em conta por Ele ao elaborar Seu plano de salvação (ver 1 Néfi 9:6). Seus propósitos serão totalmente cumpridos” (“Resplandeceis como astros no mundo”, A Liahona, julho de 1983, p. 17).

Doutrina e Convênios 3:2. “Deus não anda por veredas tortuosas” e “seu caminho é um círculo eterno”

Para esclarecer por que “os propósitos de Deus não podem ser frustrados nem podem se dissipar” (D&C 3:1), o Senhor forneceu detalhes sobre Sua natureza. O caminho que Deus segue não é tortuoso. É reto, ou seja, Ele é imutável e Seu caminho é constante ao longo do tempo. Porque Deus não varia “para a direita ou para a esquerda” (D&C 3:2), podemos confiar Nele e confiar em Suas palavras e Suas promessas.

O élder Bruce R. McConkie (1915–1985), do Quórum dos Doze Apóstolos, esclareceu o significado de o caminho de Deus ser “um círculo eterno” (D&C 3:2): “Deus governa pela lei — inteiramente, completamente, invariavelmente e sempre. O Senhor determinou que resultados idênticos fluem sempre das mesmas causas. Não há acepção de pessoas com Ele, e Ele é um Ser ‘em quem não há mudança nem sombra de variação’ (Tiago 1:17; D&C 3:1–2). Consequentemente, o ‘caminho [do Senhor] é um círculo eterno, o mesmo hoje, ontem e para sempre’ (D&C 35:1)” (Mormon Doctrine [Doutrina Mórmon], 2ª ed., 1966, pp. 545–546).

Imagem
foto de Martin Harris

Martin Harris serviu como escrevente durante a tradução do Livro de Mórmon por um tempo.

Cortesia da Biblioteca e Arquivos de História da Igreja

Doutrina e Convênios 3:4–8, 15. “Não devias ter temido mais aos homens do que a Deus”

Joseph Smith deve ter tido dificuldade de desconsiderar os pedidos persistentes de Martin Harris para poder levar as páginas do manuscrito da tradução do Livro de Mórmon. Martin era mais de 20 anos mais velho que Joseph e foi um dos primeiros a acreditar nele e auxiliar no trabalho. Ele tinha apoiado o profeta financeiramente e doou muito do seu tempo para auxiliar no trabalho de tradução. Não obstante, o Senhor repreendeu Joseph por ter sucumbindo às persuasões de Martin e explicou que ele deveria ter temido a Deus e confiado em Seu poder para auxílio. O élder D. Todd Christofferson, do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou o que pode significar temer ao Senhor:

“Há várias passagens nas escrituras que aconselham a humanidade a temer a Deus. Hoje em dia, normalmente interpretamos a palavra temor como ‘respeito’, ‘reverência’ ou ‘amor’; isto é, o temor a Deus significa o amor de Deus ou o respeito por Ele e Sua lei. Essa interpretação pode ser correta, mas me pergunto se o temor às vezes não significa, na realidade, medo, como quando os profetas falam sobre o temor de ofender a Deus ao descumprir Seus mandamentos. (…)

Sugiro que temer a Deus ou o que Paulo chama de ‘piedade’ (Hebreus 12:28) deve fazer parte de nossa reverência a Ele. Devemos então amá-Lo, reverenciá-Lo e temer fazer coisas que sejam erradas aos olhos Dele, independentemente das opiniões ou da pressão de outras pessoas” (“A Sense of the Sacred” [A consciência das coisas sagradas], serão da Universidade Brigham Young, 7 de novembro de 2004, p. 8, speeches.byu.edu).

Doutrina e Convênios 3:9–11. “Deus é misericordioso; portanto, arrepende-te do que fizeste”

A mãe do profeta, Lucy Mack Smith, escreveu que Joseph se culpou quando soube que Martin Harris havia perdido o manuscrito. Ela descreveu o sofrimento de Joseph: “Ele chorou e se lamentou, andando continuamente de um lado para o outro. (…) Soluços, gemidos e as mais amargas lamentações encheram a casa. Joseph, em particular, estava mais angustiado do que os outros porque ele sabia com certeza e por dolorosa experiência as consequências do que parecia ser aos outros uma negligência insignificante de dever. Ele continuou a andar de um lado para o outro, chorando com muita angústia como um bebê até o pôr do sol. Conseguimos convencê-lo a se alimentar um pouco” (“Lucy Mack Smith, History, 1844–1845” [Lucy Mack Smith, História, 1844–1845], livro 7, páginas 6–7, josephsmithpapers.org; pontuação, ortografia e maiúsculas padronizadas).

O desespero de Joseph continuou até quando Morôni o visitou em Harmony, Pensilvânia, e Joseph recebeu a seguinte revelação do Senhor: “Lembra-te, porém, de que Deus é misericordioso; portanto, arrepende-te do que fizeste contrário ao mandamento que te dei e és ainda escolhido; e és chamado à obra outra vez” (D&C 3:10).

Imagem
cópia dos caracteres do Livro de Mandamentos

Caracteres copiados das placas do Livro de Mórmon

O élder Lynn G. Robbins, dos setenta, deu a seguinte descrição da experiência de Joseph:

“O jovem Joseph Smith foi disciplinado com um período probatório de quatro anos antes de obter as placas de ouro, ‘por não ter guardado os mandamentos do Senhor’ (em The Joseph Smith Papers, Volume 1: Joseph Smith Histories, 1832–1844, comp. por Karen Lynn Davidson e outros, 2012, p. 83). Mais tarde, quando Joseph perdeu as 116 páginas do manuscrito, foi disciplinado novamente. Ainda que Joseph estivesse realmente arrependido, o Senhor retirou seus privilégios por um período curto de tempo, pois ‘a quem [Ele ama] também [castiga], para que seus pecados sejam perdoados’ (D&C 95:1).

Joseph disse: ‘O anjo regozijou-se quando me devolveu o Urim e Tumim, dizendo que Deus estava satisfeito com minha fidelidade e humildade e que me amava por minha penitência e diligência na oração’ (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p. 76; grifo do autor). O Senhor queria ensinar uma grande lição a Joseph e, por isso, exigiu um sacrifício doloroso; o sacrifício é uma parte essencial da disciplina” (“O juiz justo”, A Liahona, novembro de 2016, p. 97).

Há muitos exemplos na revelação moderna em que o Senhor castiga indivíduos ou os chama ao arrependimento (ver D&C 19:13–15; 30:1–3; 64:15–17; 112:1–3, 10–16). A passagem em Doutrina e Convênios 3:6–11 é uma prova de que o profeta Joseph Smith não foi isento de ser corrigido pelo Senhor por seus erros e suas fraquezas. Não obstante, porque ele se arrependeu, Joseph Smith ainda foi chamado pelo Senhor para fazer Sua obra.

Imagem
foto de Charles Anthon

Charles H. Anthon, da Columbia University, Nova York, analisou os caracteres copiados das placas do Livro de Mórmon.

O élder M. Russell Ballard, do Quórum dos Doze Apóstolos, lembrou-nos de que os líderes da Igreja não são perfeitos, mas podemos confiar que eles são inspirados e que o Senhor trabalha por meio deles:

“A Igreja de Jesus Cristo sempre foi liderada por profetas e apóstolos vivos. Embora mortais e sujeitos às imperfeições humanas, os servos do Senhor são inspirados a nos ajudar a evitar os obstáculos que ameaçam nossa vida espiritual e também a passar em segurança pela mortalidade em direção ao nosso último destino, o celestial.

Nos quase 40 anos de convívio bem próximo, tenho testemunho pessoal tanto da serena inspiração quanto da profunda revelação que levam os profetas e apóstolos, outras autoridades gerais e líderes das auxiliares a agir. Apesar de nenhum deles ser perfeito ou infalível, esses bons homens e essas boas mulheres dedicam-se perfeitamente à tarefa de levar a obra do Senhor adiante, conforme Ele a dirige. (…)

Muitas pessoas acham que os líderes e membros da Igreja devem ser perfeitos ou quase perfeitos. Esquecem que a graça do Senhor é suficiente para o cumprimento de Sua obra por intermédio de seres mortais. (…)

Concentrarmo-nos no modo como o Senhor inspira Seus líderes escolhidos e como Ele leva os santos a fazer coisas extraordinárias e notáveis, apesar de sua condição humana, é uma maneira de segurar-nos no evangelho de Jesus Cristo” (“Deus está ao leme”, A Liahona, novembro de 2015, pp. 24–25).

Doutrina e Convênios 3:12–13. “Nas mãos de um homem iníquo”

A violação de Martin Harris do convênio que ele fez de mostrar o manuscrito a cinco pessoas específicas provocou uma severa repreensão do Senhor, que Se referiu a Martin como “um homem iníquo” (D&C 3:12). Porque Martin havia escolhido confiar em sua própria sabedoria e seu bom senso, ele perdeu as páginas do manuscrito do Livro de Mórmon e Joseph Smith perdeu o privilégio de traduzir “por certo tempo” (D&C 3:14). O presidente Joseph Fielding Smith (1876–1972) ensinou que a “iniquidade [de Martin] consistia no desejo egoísta de satisfazer sua própria vontade, contrária à vontade do Senhor, depois de seu pedido (…) já lhe ter sido negado duas vezes” (Church History and Modern Revelation, 1953, vol. 1, p. 28).

Doutrina e Convênios 3:16–20. “Para este fim específico as placas (…) foram preservadas”

Os profetas do Livro de mórmon, tais como Néfi, Jacó e Morôni, descreveram os propósitos do Senhor de trazer à luz esse sagrado registro (ver a página de título do Livro de Mórmon; 2 Néfi 33:4–5; Jacó 4:3–4; Éter 8:26). O profeta Joseph Smith ainda não tinha traduzido nenhuma dessas passagens quando recebeu a revelação registrada em Doutrina e Convênios 3 e os versículos 16–20 teriam ampliado seu entendimento dos propósitos e do destino do Livro de Mórmon.

Doutrina e Convênios 10: Contexto histórico adicional

O profeta Joseph Smith recebeu a revelação registrada em Doutrina e Convênios 10 em Harmony, Pensilvânia, mas não se sabe exatamente quando. O profeta pode ter recebido trechos desta revelação já no início de julho de 1828, depois que a revelação registrada em Doutrina e Convênios 3 foi recebida. No entanto, a revelação parece ter sido registrada na primavera seguinte, em abril de 1829 (ver Doutrina e Convênios 10, cabeçalho da seção).

Algum tempo após a perda das 116 páginas do manuscrito, as placas de ouro e o Urim e Tumim foram devolvidos ao profeta, com a promessa do Senhor de que o dom de traduzir “agora [foi] restituído a [ele]” (D&C 10:3). Em março de 1829, o profeta retomou a tradução do Livro de Mórmon, com sua esposa, Emma, ajudando às vezes como sua escrevente, mas a tradução prosseguiu lentamente até Oliver Cowdery chegar em 5 de abril e começar a servir como escrevente de Joseph no dia seguinte.

Com o auxílio de Oliver, Joseph aparentemente começou a traduzir no livro de Mosias, onde estivera traduzindo antes da perda do manuscrito. Quando estava próximo do fim da tradução do Livro de Mórmon, Joseph perguntou se ele deveria voltar ao início do registro e traduzir novamente a parte que havia sido perdida. Em resposta, o Senhor orientou o profeta sobre a estratégia de Satanás para destruir a obra de Deus e disse a ele que não traduzisse novamente aquela parte das placas, mas que traduzisse as placas menores de Néfi (ver The Joseph Smith Papers, Documents, Volume 1: July 1828–June 1831, pp. 38–39). As placas menores foram um registro espiritual, concentrando-se principalmente na pregação, revelação e profecia (ver Jacó 1:4). O Senhor explicou que as placas menores cobriam o mesmo período de tempo que a parte perdida, mas de muitas maneiras “lançam maior luz” sobre o Seu evangelho (D&C 10:45).

Doutrina e Convênios 10:1–29

O Senhor revela o plano de Satanás de destruir Joseph Smith e a obra de Deus

Doutrina e Convênios 10:1–4. “Não corras mais depressa nem trabalhes mais do que te permitam as tuas forças”

Até por volta de março de 1829, porque as 116 páginas do manuscrito haviam sido perdidas, o profeta Joseph Smith não tinha mais nenhuma página transcrita para indicar o progresso da tradução do Livro de Mórmon apesar de ter recebido as placas em setembro de 1827. Embora a tradução do Livro de Mórmon fosse uma tarefa de suma importância, o Senhor não exigiu que o profeta trabalhasse além das forças e dos meios que Deus tinha preparado para ele. O élder Neal A. Maxwell explicou como os servos mortais do Senhor devem trabalhar na obra:

“O Senhor quer que sejamos diligentes, mas prudentes. Não devemos levantar rapidamente nossa cruz apenas para ver se podemos levantá-la e então colocá-la no chão; devemos carregá-la para o equilíbrio de nossa vida. E o ritmo importa muito. (…)

Correr mais rápido do que nossas forças nos permitem ‘não é exigido’. Fazer as coisas diligentemente, mas ‘com sabedoria e ordem’ é, na verdade, necessário para ‘ganhar o galardão’ (Mosias 4:27). Esse equilíbrio entre o ritmo e a diligência é um exercício elevado e exigente no uso de nosso tempo, talento e arbítrio. (…)

Quando nosso ritmo excede nossas forças e nossos meios, o resultado é prostração em vez de dedicação constante. Orientações sobre o assunto podem ser e nos são dadas por meio do processo de inspiração pessoal. (…)

O ritmo, que requer um esforço diligente e sustentado, não é o caminho daqueles que se lançam em uma única tarefa e rapidamente se tornam esgotados e, portanto, não podem ajudar novamente por um tempo” (Notwithstanding My Weakness [Não Obstante Minhas Fraquezas], 1981, pp. 4, 6–7).

Doutrina e Convênios 10:5. “Ora sempre (…) para que venças Satanás”

A experiência amarga de perder as páginas do manuscrito do Livro de Mórmon levou o profeta Joseph Smith a confiar mais diligentemente na orientação e instrução que recebeu de Deus. Ele foi relembrado de “[orar] sempre” a fim de escapar da influência destrutiva de Satanás e seus servos (D&C 10:5). O presidente Henry B. Eyring, da Primeira Presidência, destacou um dos motivos por que o Senhor deu o mandamento de orar sempre:

“Talvez já se tenham perguntado, como eu, por que Ele usou a palavra sempre, dada a natureza da mortalidade que pesa sobre nós. Sabemos, por experiência própria, quão difícil é pensar conscientemente em qualquer coisa o tempo todo. Até mesmo a serviço de Deus, você não vai conscientemente orar sempre. Então por que o Mestre nos exorta a ‘orar sempre’?

Não sou sábio o bastante para conhecer todos os Seus propósitos em nos dar um convênio para recordá-Lo sempre e nos alertar para orarmos sempre para não sermos vencidos. Mas conheço uma das razões. O fato é que Ele conhece perfeitamente as forças poderosas que nos influenciam e também o que significa ser humano. (…)

Ele conhece as preocupações da vida que nos afligem. (…) E Ele sabe que as provações que enfrentamos e nossos poderes humanos para lidar com eles são inconstantes.

Ele conhece os erros que tão facilmente podemos cometer: Subestimar as forças que trabalham em nosso favor e confiar demais em nossa própria força. Assim, Ele nos oferece o convênio de ‘recordá-Lo sempre’ e a admoestação de ‘orar sempre’ de forma a colocarmos nossa confiança Nele, nossa única proteção. Não é difícil saber o que fazer. A própria dificuldade de nos lembrar sempre e orar sempre é um incentivo necessário para tentar com mais afinco. O perigo está em ser levado pela procrastinação” (“Always” [Sempre], Ensign, outubro de 1999, pp. 8–9).

O presidente Eyring explicou uma maneira como podemos orar continuamente o dia todo: “O Senhor ouve as orações de seu coração. Os sentimentos em seu coração de amor por nosso Pai Celestial e Seu Filho Amado podem ser tão constantes que suas orações sempre subirão ao céu” (“Always” [Sempre], p. 12).

Doutrina e Convênios 10:6–19. “O diabo procurou armar um plano astuto a fim de destruir esta obra”

Satanás procura frustrar a obra do Senhor (ver Mateus 4:1–11; Moisés 1:12–23; 4:6; Joseph Smith—História 1:15). A perda das páginas do manuscrito do Livro de Mórmon e o plano de homens iníquos para desacreditar o profeta Joseph Smith se ele traduzisse novamente o mesmo material foram algumas das muitas tentativas para impedir o surgimento do Livro de Mórmon. (Para ver um resumo sobre o que Joseph Smith aprendeu sobre o plano de Satanás para as 116 páginas perdidas do manuscrito, leia o cabeçalho da seção de Doutrina e Convênios 10.)

O élder Richard G. Scott (1928–2015), do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou o seguinte sobre Satanás e sua meta final: “Satanás (…) tem um plano. É um plano de destruição astuto, perverso e sutil. Seu objetivo é levar cativos os filhos do Pai Celestial e frustrar o grande plano de felicidade de todas as maneiras possíveis” (“A alegria de viver o grande plano de felicidade”, A Liahona, janeiro de 1997, p. 78).

Doutrina e Convênios 10:20–29. “Ele incita-lhes os corações a irarem-se contra esta obra”

Satanás induziu homens corruptos a perseguir o profeta Joseph Smith e tentar destruir o Livro de Mórmon. Ele enganou e lisonjeou os ímpios e lhes disse que “não é pecado mentir” e destruir o que é bom (D&C 10:25). O profeta Joseph Smith (1805–1844) ensinou: “O diabo tem grande poder para enganar; ele transformará de tal maneira as coisas a ponto de deixar as pessoas boquiabertas ao virem aqueles que estão fazendo a vontade de Deus” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p. 77).

Ainda há pessoas hoje em dia que estão cheias de ira contra a obra de Deus. O élder Neil L. Andersen, do Quórum dos Doze Apóstolos, admoestou os membros da Igreja:

“Nenhum de nós está imune às influências do mundo. O Senhor nos aconselha a estarmos atentos. (…)

Seguir o Salvador, sem dúvida, traz consigo muitos desafios. Encaradas com fé, tais experiências refinam nosso espírito e aprofundam nossa conversão à realidade do Salvador. Encaradas à maneira do mundo, essas mesmas experiências nos ofuscam a visão e enfraquecem nossa decisão. Alguns que amamos e admiramos se desviam do caminho estreito e apertado e ‘já não [andam] com ele’ (João 6:66). (…)

Será que às vezes ficaremos atônitos com a raiva que uns poucos sentem pela Igreja do Senhor e com o empenho deles em destruir a fé hesitante daqueles que estão fracos? Ficaremos, sim. Mas isso não atrapalhará o crescimento ou o destino da Igreja, tampouco impedirá o progresso espiritual de cada um de nós, como discípulos do Senhor Jesus Cristo” (“Nunca O deixem”, A Liahona, novembro de 2010, pp. 39, 41–42).

Doutrina e Convênios 10:30–70

Joseph Smith aprende sobre o plano de Deus para frustrar os esforços de Satanás para destruir a obra

Doutrina e Convênios 10:30–37. “Não deverás tornar a traduzir aquelas palavras”

O Senhor sabia que pessoas iníquas desejavam publicar uma versão do manuscrito roubado com um texto alterado. Essa versão iria contradizer tudo o que o profeta Joseph Smith publicasse se ele traduzisse novamente a parte perdida. Portanto, o Senhor ordenou que Joseph não retraduzisse aquela parte das placas. Os inimigos do profeta nunca publicaram as 116 páginas do manuscrito, e as páginas nunca foram encontradas. Mais tarde, quando a primeira edição do Livro de Mórmon foi publicada, Joseph Smith incluiu um prefácio no qual ele citou parte de Doutrina e Convênios 10 e expôs publicamente o plano dos iníquos de publicar as palavras que “[leriam] diferentemente do que [Joseph] [traduziu] e [fez] escrever” (D&C 10:11).

Imagem
parte de uma página do manuscrito original do Livro de Mórmon

Parte de uma página do manuscrito original do Livro de Mórmon

Doutrina e Convênios 10:38–45. “Minha sabedoria é maior do que a astúcia do diabo”

As 116 páginas perdidas do manuscrito do Livro de Mórmon vieram da tradução do profeta Joseph Smith das placas maiores de Néfi e incluíam o livro de Leí (ver 1 Néfi 1:16; 19:1) e possivelmente a primeira parte do livro de Mosias. Depois da perda do manuscrito, o profeta não traduziu novamente essas partes das placas, mas continuou a traduzir o restante do resumo de Mórmon das placas maiores. O Senhor, no entanto, instruiu Joseph a traduzir as gravações que estavam nas placas menores de Néfi que cobriam o mesmo período de tempo que o livro de Leí (ver D&C 10:41).

Quando o profeta Néfi do Livro de Mórmon descreveu o mandamento do Senhor para criar um segundo conjunto de placas, ele escreveu que foi “para um sábio propósito seu, o qual me é desconhecido. Mas o Senhor conhece todas as coisas, desde o começo; portanto, ele prepara um caminho para realizar todas as suas obras” (1 Néfi 9:5–6; ver também 1 Néfi 19:1–5; 2 Néfi 5:29–33; Palavras de Mórmon 1:6–7).

O élder Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou como o segundo registro de Néfi é um exemplo da infinita sabedoria de Deus e como isso nos abençoa hoje:

“Pelo menos seis vezes no Livro de Mórmon, a frase ‘para um sábio propósito’ é usada em referência à elaboração, escrita e preservação das placas menores de Néfi (ver 1 Néfi 9:5; Palavras de Mórmon 1:7; Alma 37:2, 12, 14, 18). Sabemos que um sábio propósito — o mais óbvio — era compensar a perda das 116 páginas perdidas do manuscrito traduzido pelo profeta Joseph Smith da primeira parte do Livro de Mórmon (ver D&C 310).

Mas acredito que há um ‘propósito ainda mais sábio’ do que aquele ou, talvez mais precisamente, um ‘propósito ainda mais sábio’ nisso. A chave que indica esse propósito está em D&C 10:45. Quando o Senhor instrui Joseph a respeito do processo de tradução e da inserção do material das placas menores na parte em que havia começado a tradução das placas maiores mais abrangentes, ele disse: ‘Eis que há muitas coisas gravadas nas placas [menores] de Néfi que lançam maior luz sobre meu evangelho’ (grifo do autor).

Pode-se perceber claramente que isso não foi simplesmente uma substituição no desenvolvimento do produto final do Livro de Mórmon. Não foi uma mera troca, isso por aquilo: 116 páginas do manuscrito por 142 páginas de texto impresso. Não foi assim. Recebemos de volta mais do que foi perdido. Desde o princípio, já se sabia que isso aconteceria. Não sabemos exatamente o que foi perdido nas 116 páginas, mas sabemos que o que recebemos das placas menores foram declarações pessoais das três grandes testemunhas (Néfi, Jacó e Isaías), três importantes vozes doutrinárias do Livro de Mórmon, testificando que Jesus é o Cristo” (“For a Wise Purpose” [Por um sábio propósito], Ensign, janeiro de 1996, pp. 13–14).

Doutrina e Convênios 10:46–52. Respondendo às orações dos discípulos nefitas

Vários profetas e discípulos nefitas oraram para que seus registros fossem preservados e que por meio deles o evangelho chegaria aos lamanitas e à sua posteridade (ver 2 Néfi 26:15; Enos 1:13, 16–17; Mosias 12:8; 3 Néfi 5:14; Mórmon 8:25–26; 9:34–37). As orações desses profetas foram respondidas pelo surgimento do Livro de Mórmon nos últimos dias.

Doutrina e Convênios 10:53–56, 67. “Minha igreja”

Doutrina e Convênios 10:53–56 contém uma das mais antigas menções do Senhor de que Ele estava Se preparando para estabelecer Sua Igreja novamente na Terra (ver também D&C 5:14; 6:1; 11:16). O Senhor prometeu que aqueles que pertencem à Sua Igreja “não precisam temer, porque herdarão o reino dos céus” (D&C 10:55). Algumas pessoas acreditam que ser membro da Igreja restaurada do Senhor assegura a salvação. Para entender a doutrina do Senhor quanto ao assunto, precisamos entender o que pertencer à Igreja do Senhor significa. O Senhor declarou que aqueles que pertencem à Igreja não são apenas aqueles que são batizados e têm seus nomes nos registros da Igreja, mas aquele que “se arrepende e vem a mim” (D&C 10:67). O Senhor também acrescentou que os membros de Sua Igreja que perseveram até o fim prevalecerão contra as portas do inferno (ver D&C 10:69).

Doutrina e Convênios 10:57–70. “[Trazer] à luz os pontos verdadeiros de minha doutrina”

Por meio da revelação registrada em Doutrina e Convênios 10, Jesus Cristo testifica de Sua divindade como o Filho de Deus, nosso Senhor, e o Redentor do mundo (ver D&C 10:57, 70). Por meio do surgimento do Livro de Mórmon e da Restauração da Igreja de Jesus Cristo, o Senhor prometeu que “os pontos verdadeiros de [Sua] doutrina” seriam trazidos à luz (D&C 10:62). Um de seus propósitos em revelar Sua doutrina por meio do Livro de Mórmon é ajudar os filhos de Deus a entender Sua palavra com clareza para que evitem a contenda e a tendência de “torcer” ou distorcer Sua palavra e interpretar erroneamente as escrituras (ver D&C 10:63).

A declaração do Senhor que o Livro de Mórmon iria “[trazer] à luz os pontos verdadeiros de [Sua] doutrina” (D&C 10:62) e acabar com a contenda é o cumprimento da profecia de José do Egito sobre os escritos do fruto dos seus lombos que surgiriam nos últimos dias (ver 2 Néfi 3:12). Durante a Grande Apostasia, o sacerdócio foi retirado da Terra e muitas verdades claras e preciosas foram retiradas da Bíblia (ver 1 Néfi 13:26–29). Consequentemente, o mundo foi deixado sem a plenitude da verdade e a revelação divina necessária para entender e aplicar a palavra de Deus. Essa falta de luz e de verdade levou a desentendimentos e contendas sobre as doutrinas de Deus e permitiu que Satanás provocasse a discórdia no coração dos homens. O surgimento do Livro de Mórmon nestes últimos dias restabelece e esclarece novamente a plenitude da verdade de Deus e testifica dessa verdade.