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Capítulo 52: Doutrina e Convênios 132:34–66; Declaração Oficial 1


“Capítulo 52: Doutrina e Convênios 132:34–66; Declaração Oficial 1”, Doutrina e Convênios — Manual do Aluno, 2017

“Capítulo 52”, Doutrina e Convênios — Manual do Aluno

Capítulo 52

Doutrina e Convênios 132:34–66; Declaração Oficial 1

Introdução e cronologia

Ao trabalhar na revisão inspirada da Bíblia em 1831, o profeta Joseph Smith perguntou ao Senhor por que alguns dos antigos patriarcas e reis israelitas tiveram mais de uma esposa. Naquela época, o profeta começou a receber revelações referentes ao casamento plural. Nos anos seguintes, o Senhor ordenou ao profeta e a outros santos dos últimos dias que vivessem o princípio do casamento plural. Em 12 de julho de 1843, em Nauvoo, Illinois, o profeta ditou a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 132, na qual o Senhor revelou princípios referentes ao “novo e eterno convênio do casamento” (D&C 131:2). Esta lição aborda Doutrina e Convênios 132:34–66, que inclui os ensinamentos do Senhor sobre o casamento plural e Seu conselho para Joseph e Emma Smith.

Depois que os santos migraram para o Vale do Lago Salgado no oeste dos Estados Unidos, eles começaram a praticar abertamente o casamento plural. Entre as décadas de 1860 e 1880, o governo dos Estados Unidos aprovou leis contra o casamento plural. Depois de buscar a orientação do Senhor e receber Sua direção, o presidente Wilford Woodruff preparou o Manifesto, em 23 e 24 de setembro de 1890, que acabou resultando no fim da prática do casamento plural entre os membros da Igreja. O Manifesto, que se encontra em Doutrina e Convênios como a Declaração Oficial 1, foi promulgado publicamente em 25 de setembro de 1890.

Maio e julho de 1843Emma Smith consente com vários dos casamentos plurais de Joseph Smith, mas tem dificuldades para aceitar a prática.

12 de julho de 1843A revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 132 é ditada.

27 de junho de 1844O profeta Joseph Smith e seu irmão Hyrum morrem como mártires na Cadeia de Carthage, em Carthage, Illinois.

24 de julho de 1847O presidente Brigham Young e outros santos chegam ao Vale do Lago Salgado.

29 de agosto de 1852Sob a direção do presidente Brigham Young, o élder Orson Pratt ensina publicamente o princípio do casamento plural.

Décadas de 1860 a 1880O governo dos Estados Unidos aprova leis que proíbem o casamento plural.

25 de setembro de 1890O presidente Wilford Woodruff publica o Manifesto, que hoje se encontra na Declaração Oficial 1.

6 de outubro de 1890Numa conferência geral da Igreja, o Manifesto é aceito pelos membros da Igreja como oficial e obrigatório.

Doutrina e Convênios 132: Informações históricas adicionais

Embora a revelação sobre o casamento plural não tenha sido escrita até 1843, o profeta Joseph Smith recebeu partes dela já em 1831, enquanto estudava o Velho Testamento. A revelação declara que o profeta orou para saber por que Deus justificava o fato de os antigos patriarcas e reis israelitas terem muitas esposas. Relatos feitos por pessoas próximas a Joseph Smith declaram que um anjo de Deus apareceu ao profeta em três ocasiões entre 1834 e 1842, ordenando a ele que obedecesse ao princípio do casamento plural (ver “O casamento plural em Kirtland e Nauvoo”, topics.LDS.org). Eliza R. Snow, que foi selada em casamento a Joseph Smith, registrou ensinamentos sobre o casamento plural que o profeta deu ao irmão dela, Lorenzo Snow: “O profeta Joseph (…) descreveu o calvário mental por que passou para vencer a repugnância de seus sentimentos, resultado natural da força da educação e dos costumes sociais, referentes à introdução do casamento plural. (…) Ele sabia que não teria de vencer e superar apenas seus próprios preconceitos e predisposições, mas os de todo o mundo cristão que o condenaria; mas Deus, que está acima de tudo, dera um mandamento e ele deveria obedecer. No entanto, o profeta hesitou e adiou por certo tempo, até que um anjo de Deus se pôs diante dele com uma espada desembainhada e disse que, a menos que ele prosseguisse e estabelecesse o casamento plural, seu sacerdócio seria retirado e ele seria destruído [ou afastado da presença de Deus]! (Eliza R. Snow Smith, Biography and Family Record of Lorenzo Snow, 1884, pp. 69–70.)

“Uma evidência fragmentada sugere que, ao receber a primeira visita do anjo, Joseph Smith obedeceu à instrução recebida e se casou com outra mulher, Fanny Alger, em Kirtland, Ohio, em meados de 1830. Muitos santos dos últimos dias que moravam em Kirtland relataram, décadas mais tarde, que Joseph Smith se casou com Alger, que morava e trabalhava na casa da família Smith, após obter o consentimento dela e de seus pais. Sabe-se pouco sobre esse casamento, e nada existe sobre as conversas entre Joseph e Emma a respeito de Alger. Após o casamento com Alger ter terminado em separação, parece que Joseph deixou o assunto do casamento plural de lado até que a Igreja se mudou para Nauvoo, Illinois” (“O casamento plural em Kirtland e Nauvoo”, topics.LDS.org).

Em 1841, o profeta Joseph Smith se casou com outras mulheres, em cumprimento do mandamento do Senhor, e introduziu o princípio do casamento plural para um número limitado de outros membros da Igreja. “Esse princípio foi um dos aspectos mais desafiadores da Restauração — pessoalmente para Joseph e para outros membros da Igreja. O casamento plural testou a fé e provocou controvérsia e oposição. Poucos santos dos últimos dias aceitaram de início a restauração de uma prática bíblica completamente contrária ao que acreditavam ser correto. 

(…) Para a esposa de Joseph, Emma, era uma provação excruciante. 

(…) Ela oscilou em sua visão do casamento plural, algumas vezes apoiando e outras vezes condenando” (“O casamento plural em Kirtland e Nauvoo”, topics.LDS.org).

Na manhã do dia 12 de julho de 1843, o profeta e seu irmão Hyrum estavam discutindo a doutrina do casamento plural no escritório do profeta, sobre a Loja de Tijolos Vermelhos, em Nauvoo. O escrevente do profeta, William Clayton, contou mais tarde: “Hyrum disse a Joseph: ‘Se você escrever a revelação sobre o casamento celestial, eu a levarei para Emma e creio que posso convencê-la de sua veracidade, e você terá paz depois disso’. Joseph sorriu e comentou: ‘Você não conhece Emma tão bem quanto eu’. Hyrum repetiu sua opinião e acrescentou: ‘A doutrina é tão clara que posso convencer qualquer homem ou mulher de bom senso sobre sua veracidade, pureza e origem divina’, ou palavras semelhantes” (em History of the Church, vol. 5, p. xxxii).

O profeta consentiu e instruiu William Clayton a pegar papel e se preparar para escrever. Depois que Joseph ditou a revelação, ele pediu a William Clayton “que a lesse por completo, lenta e cuidadosamente, o que [ele] fez, e [Joseph] a declarou correta. Depois, ele disse que havia muito mais que ele poderia escrever sobre o assunto, mas o que estava escrito era suficiente para o momento” (William Clayton, em History of the Church, vol. 5, pp. xxxii–xxxiii).

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Mapa 10: Nauvoo, Illinois, 1839–1846

Doutrina e Convênios 132:34–50

O Senhor ensina sobre o poder selador dado ao profeta Joseph Smith

Doutrina e Convênios 132:34–39. “Porque eu, o Senhor, dei-lhe essa ordem”

O Senhor prometeu o seguinte ao profeta Abraão, do Velho Testamento: “E farei de ti uma grande nação, e abençoar-te-ei sobremaneira, e engrandecerei o teu nome entre todas as nações; e serás uma bênção para tua semente depois de ti, para que em suas mãos levem este ministério e Sacerdócio a todas as nações; (…) e em tua semente depois de ti (isto quer dizer a semente literal, ou seja, a semente do corpo), serão abençoadas todas as famílias da Terra, sim, com as bênçãos do Evangelho, que são as bênçãos de salvação, sim, de vida eterna” (Abraão 2:9, 11).

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Abraham on the Plains of Mamre, de Harry Anderson

Abraham on the Plains of Mamre, de Harry Anderson O profeta Abraão, do Velho Testamento, e sua esposa Sara viveram fielmente e fizeram tudo que o Senhor lhes ordenou.

De acordo com as promessas do Senhor, a posteridade de Abraão seria tão numerosa “como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar” (Gênesis 22:17; ver também Gênesis 15:5; D&C 132:30). Contudo, a esposa de Abraão, Sara, não conseguia ter filhos. Em cumprimento da lei e dos costumes da época, Sara deu sua serva Agar a Abraão como esposa plural, na esperança de ter filhos por meio dela (ver Gênesis 16:1–2). O Senhor esclareceu na revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 132 que Ele ordenou a Abraão que se casasse com Agar, e Sara obedeceu à vontade do Senhor e “entregou-lhe Agar como esposa” (D&C 132:34). O Senhor então perguntou: “Estava Abraão, portanto, sob condenação? Em verdade vos digo que não; porque eu, o Senhor, dei-lhe essa ordem” (D&C 132:35).

O Senhor explicou ao profeta Joseph Smith que Ele havia ordenado a outros, na época do Velho Testamento, a ter mais de uma esposa. Somente nas ocasiões em que Seus servos tiveram esposas e concubinas que não haviam sido autorizadas pelo Senhor eles cometeram pecado (ver D&C 132:38). O profeta Jacó, do Livro de Mórmon, condenou a prática não autorizada do casamento plural entre seu povo (ver Jacó 2:22–30). Aparentemente, alguns nefitas usaram os exemplos encontrados nas escrituras sobre o rei Davi e Salomão para justificar a imoralidade sexual. Por meio de Jacó, o Senhor declarou que “Davi e Salomão realmente tiveram muitas esposas e concubinas, o que foi abominável diante de mim” (Jacó 2:24). O Senhor esclareceu na revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 132 que, quando o rei Davi tomou outras esposas, “em nenhuma dessas coisas pecou ele contra mim, a não ser no caso de Urias e sua mulher” (D&C 132:39). Assim, o pecado de Davi foi o de cobiçar a mulher de outro homem, cometendo adultério com ela, providenciando para que Urias fosse morto e tomando a mulher de Urias como esposa (ver 2 Samuel 12:9). O pecado de Salomão foi o de amar e se casar com “muitas mulheres estrangeiras”, que não eram da casa de Israel, que “[perverteram o seu] coração para [seguir] os seus deuses” (1 Reis 11:1–2; ver também Deuteronômio 17:14–17). Aprendemos com os ensinamentos de Jacó e com as revelações do Senhor ao profeta Joseph Smith que o casamento plural somente é aceitável quando o Senhor ordena. Caso contrário, aqueles que se envolvem com essa prática cometem pecado e estão sob grave condenação.

Doutrina e Convênios 132:36. “Abraão não se negou”

O mandamento que o Senhor deu a Abraão de sacrificar seu filho Isaque é uma das mais duras provas de obediência encontrada nas escrituras (ver Gênesis 22:1–14). Isaque era o filho único de Abraão nascido milagrosamente de sua esposa Sara em idade avançada (ver Gênesis 18:9–14; 21:1–5). Antes do nascimento de Isaque, o Senhor havia prometido a Abraão que por intermédio de sua posteridade ele se tornaria “pai de uma multidão de nações” (ver Gênesis 17:1–8) e Sara se tornaria “mãe de nações” (ver Gênesis 17:15–16). O mandamento de sacrificar seu filho Isaque, por quem ele e Sara tanto esperaram e a quem amavam muito, deve ter posto duramente à prova a fé que Abraão tinha. Anteriormente na vida de Abraão, seus pais, “tendo-se afastado de sua retidão, e dos santos mandamentos que o Senhor seu Deus lhes dera”, entregaram-no a um sacerdote idólatra para ser oferecido como sacrifício humano, e Abraão por pouco não escapou de ser sacrificado quando o Senhor enviou um anjo para salvá-lo (ver Abraão 1:5, 15–16). Essa experiência provavelmente fez com que o mandamento dado pelo Senhor de sacrificar Isaque se tornasse ainda mais repulsivo e aflitivo para Abraão. Ele deve ter se perguntado por que o Senhor lhe ordenaria sacrificar seu filho, numa aparente contradição direta de Sua lei que proibia o sacrifício humano e o assassinato (ver Tradução de Joseph Smith, Gênesis 9:12–13, no apêndice da Bíblia). O Senhor reconheceu essa contradição na revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 132, mas explicou que, mesmo que não tendo sido exigido, no final, que Abraão tirasse a vida do filho, seu intuito de obedecer “lhe foi imputado por retidão” (D&C 132:36). De modo semelhante, o Senhor explicou que o casamento de Abraão com mais de uma mulher “lhe foi atribuído como sendo retidão, porque elas lhe foram dadas e ele obedeceu à minha lei” (D&C 132:37).

O presidente Thomas S. Monson ensinou: “Às vezes, a sabedoria de Deus parece tolice ou simplesmente difícil demais, mas uma das maiores e mais valiosas lições que podemos aprender na mortalidade é que, quando Deus fala e o homem obedece, esse homem está sempre certo” (“Dispostos e dignos para servir”, A Liahona, maio de 2012, p. 67).

É importante lembrar que, se Deus for ordenar a Seu povo que faça algo contrário aos mandamentos atuais, essa instrução deve vir por meio de Seu profeta vivo. O presidente Harold B. Lee (1899–1973) ensinou: “Quando houver algo diferente do que o Senhor já nos disse, Ele revelará a Seu profeta. Você acha que, enquanto o Senhor tiver Seu profeta na Terra, Ele vai utilizar subterfúgios para revelar coisas a Seus filhos? É para isso que Ele tem um profeta e, quando Ele tiver alguma coisa para revelar à Igreja, Ele dirá ao presidente, e o presidente fará com que os presidentes das estacas e missões, bem como as autoridades gerais fiquem cientes; e eles, por sua vez, vão comunicar às pessoas qualquer mudança” (Stand Ye in Holy Places, 1974, p. 159).

Os primeiros santos dos últimos dias que foram instruídos a praticar o casamento plural passaram por uma prova de fé. O princípio era contrário não apenas às práticas e leis matrimoniais em vigor nos Estados Unidos, mas também aos padrões morais dos santos dos últimos dias para homens e mulheres. Lucy Walker, que foi uma das esposas plurais do profeta Joseph Smith, falou sobre sua luta para aceitar o princípio: “Quando o profeta Joseph Smith mencionou para mim pela primeira vez o princípio do casamento plural, senti-me indignada e assim o expressei a ele, porque meus sentimentos e minha educação eram avessos [contrários] a qualquer coisa dessa natureza. Mas ele me assegurou que aquela doutrina lhe tinha sido revelada pelo Senhor e que eu tinha o direito de receber por mim mesma um testemunho de sua origem divina” (Lucy Walker Kimball, depoimento, 17 de dezembro de 1902, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City, Utah).

Lucy se angustiou com essa decisão. Conforme registrado num esboço biográfico, ela disse posteriormente a Joseph: “Tentei orar, mas não recebi nenhum conforto nem luz”. Em seguida, ela explicou:

“Ele (…) disse: ‘Que o Deus Todo-Poderoso a abençoe. Você terá uma manifestação da vontade de Deus a seu respeito, um testemunho que jamais poderá negar. Vou lhe dizer o que será. Será uma paz e uma alegria que você jamais sentiu’. Oh, com quanta sinceridade orei para que aquelas palavras se cumprissem. Estava quase amanhecendo, após outra noite insone. Enquanto eu estava de joelhos, em fervorosa súplica, meu quarto se encheu de uma santa influência. Para mim, foi como se a refulgente luz do sol irrompesse através da mais tenebrosa nuvem.

As palavras dos profetas são realmente cumpridas. Minha alma se encheu com uma calma e uma paz tão profundas como eu nunca havia sentido. Uma felicidade suprema tomou todo o meu ser, e recebi um vigoroso e irresistível testemunho da veracidade (…) do casamento plural, o qual tem sido como uma âncora para a minha alma ao longo de todas as tentações e provações da vida” (Lucy Walker Kimball, esboço biográfico, páginas 10–11, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City; ortografia e pontuação padronizadas).

O bispo Newel K. Whitney e sua esposa Elizabeth também se debateram no começo para aceitar o princípio do casamento plural antes de adquirirem seu próprio testemunho confirmador. “O bispo Whitney não era um homem que prontamente aceitava toda doutrina, e ele questionava o profeta muito de perto sobre os princípios que não ficavam claros a seu entendimento. Quando Joseph viu que ele tinha dúvidas em relação à retidão dessa ordem celestial [o casamento plural], ele lhe disse que fosse e consultasse o Senhor a esse respeito, e ele receberia um testemunho por si mesmo” (Helen Mar Kimball Whitney, “Scenes in Nauvoo after the Martyrdom of the Prophet and Patriarch”, Woman’s Exponent, 1º de março de 1883, p. 146). Elizabeth Whitney relatou: “Joseph tinha a mais implícita confiança na retidão de meu marido e em sua integridade de caráter. (…) Portanto, confiou a ele e a mais algumas poucas pessoas os princípios estabelecidos naquela revelação (D&C 132). (…) Meu marido revelou essas coisas para mim. Sempre fomos muito unidos e tínhamos a maior fé e confiança um no outro. Ponderamos continuamente a respeito delas, e nossas orações foram incessantes para que o Senhor nos concedesse alguma manifestação especial no tocante àquela nova e estranha doutrina. O Senhor foi muito misericordioso conosco. Ele nos revelou Seu poder e Sua glória. Fomos aparentemente envolvidos numa visão celeste, uma luz nos rodeava, e tivemos a firme convicção de que Deus tinha ouvido e aprovado nossas orações e intercessões perante Ele”. Elizabeth testificou que “o coração deles foi confortado” e sua fé “se tornou perfeita” no tocante ao princípio do casamento plural (Elizabeth Ann Whitney, “A Leaf from an Autobiography”, Woman’s Exponent, 15 de dezembro de 1878, p. 105).

“Nem todos [os membros da Igreja] tiveram tais experiências. Alguns santos dos últimos dias rejeitaram o princípio do casamento plural e saíram da Igreja, ao passo que outros se negaram a participar da prática, mas permaneceram fiéis. Contudo, para muitos homens e muitas mulheres, a repulsa e a angústia iniciais foram seguidas de grande luta, determinação e, por fim, luz e paz. Experiências sagradas permitiram que os santos seguissem em frente com fé” (“O casamento plural em Kirtland e Nauvoo”, topics.LDS.org).

Doutrina e Convênios 132:37. “Entraram para a sua exaltação”

“Vida eterna ou exaltação é herdar o mais elevado grau de glória do reino celestial, onde viveremos na presença de Deus e em família” (Sempre Fiéis: Tópicos do Evangelho, 2004, p. 193). Doutrina e Convênios 131:1–4 ensina que o “mais elevado” grau no reino celestial é obtido pelos que “[entram no] (…) novo e eterno convênio do casamento”. Como Abraão, Isaque e Jacó “[obedeceram] à (…) lei [do Senhor]”, ou seja, entraram no novo e eterno convênio do casamento, e “nada mais fizeram do que as coisas que lhes fora ordenadas, entraram para a sua exaltação” (D&C 132:37).

Ao se referir a Doutrina e Convênios 132:37, o élder Bruce R. McConkie (1915–1985), do Quórum dos Doze Apóstolos, salientou que Abraão, Isaque e Jacó receberam a exaltação com suas respectivas esposas: “O que dizemos para Abraão, Isaque e Jacó dizemos também para Sara, Rebeca e Raquel, as esposas que ficaram ao lado deles e que com eles foram leais e fiéis em todas as coisas. Os homens não são salvos sozinhos, e as mulheres não ganham uma plenitude eterna a não ser com a continuação da unidade familiar na eternidade. A salvação é um assunto de família” (“Mothers in Israel and Daughters of Zion”, New Era, maio de 1978, p. 37).

Doutrina e Convênios 132:39–40, 45. “As chaves desse poder”

O Senhor ensinou que o rei Davi estava justificado em ter outras esposas e concubinas quando autorizado a fazê-lo pelo profeta Natã “e outros profetas que possuíam as chaves desse poder” (D&C 132:39). As chaves do sacerdócio que o profeta do Senhor possui incluem o poder de selar ou ligar na Terra e no céu todas as ordenanças pertencentes à salvação para que continuem em vigor e tenham validade “na ressurreição dos mortos [e] depois dela” (D&C 132:7; ver também D&C 132:46).

Como o profeta Joseph Smith possuía as chaves do sacerdócio, o Senhor “[restaurou] todas as coisas” por intermédio dele (D&C 132:40, 45), inclusive a prática do casamento plural. O profeta Joseph Smith (1805–1844) ensinou: “Todas as ordenanças e deveres que já foram exigidos pelo sacerdócio, sob a direção e mandamentos do Todo-Poderoso, em qualquer das dispensações serão todas obtidas na última dispensação, portanto todas as coisas obtidas sob a autoridade do sacerdócio em qualquer período anterior serão obtidas novamente, levando a efeito a restauração mencionada pela boca de todos os santos profetas” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p. 536).

Doutrina e Convênios 132:41–44, 48. “Sendo que me indagaste a respeito do adultério”

O texto de Doutrina e Convênios 132:41 sugere que o profeta Joseph Smith tinha uma dúvida ou preocupação em relação ao adultério no tocante ao casamento plural. Em resposta, o Senhor explicou que se comete adultério quando uma mulher ou um homem casado tem relações sexuais fora dos laços do matrimônio (ver D&C 132:41–43). O Senhor também disse ao profeta que, se um cônjuge comete adultério e assim quebra o voto ou convênio do casamento, o profeta “[tem] poder, pelo poder de meu santo sacerdócio” para selar o cônjuge justo em casamento a outra pessoa que “não haja cometido adultério, mas tenha sido fiel” (D&C 132:44). Assim, o cônjuge infiel não pode impedir um cônjuge justo de receber as bênçãos da exaltação.

O Senhor reassegurou ao profeta que todo casamento, inclusive os casamentos plurais, realizado de acordo com Sua lei e pelo poder de selamento do sacerdócio, seria “visitado com bênçãos e não com maldições (…) e não receberá condenação, quer na Terra quer no céu” (D&C 132:48; ver também D&C 132:45–47, 59–62).

Doutrina e Convênios 132:49–50. “Selo sobre ti tua exaltação”

O Senhor deu ao profeta Joseph Smith Sua certeza de exaltação ou vida eterna como resultado de seus “sacrifícios em obediência ao que te ordenei” (ver D&C 132:49–50). Tal como Abraão, o profeta Joseph Smith se provou fiel apesar das dificuldades ou dos sacrifícios exigidos para servir e obedecer ao Senhor.

Para mais explicações sobre o que significa uma pessoa ter a exaltação selada sobre si, ver o comentário sobre Doutrina e Convênios 131:5 neste manual.

Doutrina e Convênios 132:51–66

O Senhor aconselha Emma Smith e dá instruções referentes ao casamento plural

Doutrina e Convênios 132:51. “Um mandamento dou à minha serva Emma Smith”

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representação de Joseph e Emma Smith

O casamento plural foi uma dura prova tanto para Joseph Smith quanto para sua esposa Emma.

Embora a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 132 contenha doutrina e princípios de interesse geral e valor para todos os santos dos últimos dias, as instruções pessoais para Emma e Joseph Smith provavelmente não eram originalmente dirigidas a toda a Igreja. Em 1877, um ano depois que a seção 132 foi acrescentada a Doutrina e Convênios, o presidente Joseph F. Smith (1838–1918) explicou: “Quando a revelação foi escrita, em 1843, era para um propósito especial, a pedido do patriarca Hyrum Smith, e não se destinava a ser divulgada para a Igreja e para o mundo. É mais provável que, se ela tivesse sido escrita naquela época com o intuito de ser divulgada como doutrina da Igreja, ela teria sido apresentada de uma forma um pouco diferente. Há instruções pessoais contidas em parte dela que não são relevantes para o princípio em si, mas, sim, para as circunstâncias que exigiram que ela fosse escrita naquela época” (“Discourse”, Deseret News, 11 de setembro de 1878, p. 498).

Como as circunstâncias específicas de Joseph e Emma Smith não são plenamente conhecidas nem compreendidas, o significado de alguns versículos não está claro. O Senhor, por exemplo, ordenou a Emma a “se [conter] e não [participar] daquilo que [o Senhor ordenou que Joseph oferecesse a ela]” (D&C 132:51). Não sabemos o que o Senhor ordenara que Joseph oferecesse a Emma. Contudo, a revelação sugere que era intenção do Senhor que a “oferta” — seja ela qual fosse — servisse como uma prova abraâmica de fé, tanto para Joseph quanto para Emma: “Porque eu o fiz, diz o Senhor, para provar-vos a todos, como fiz com Abraão; e para exigir uma oferta de vossas mãos, por convênio e sacrifício” (D&C 132:51).

Doutrina e Convênios 132:52–56. “Permaneça com meu servo Joseph, apegando-se a ele”

Por um tempo, Emma Smith aceitou o princípio do casamento plural e deu seu consentimento para que Joseph se casasse com outras mulheres (ver “O casamento plural em Kirtland e Nauvoo”, topics.LDS.org). Contudo, no verão de 1843, quando a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 132 foi escrita, Emma teve dificuldade para aceitar esses casamentos plurais. Na revelação, o Senhor instruiu Emma a “[receber] todas as [mulheres] que foram dadas a meu servo Joseph” e a “apegar-se” a seu marido (D&C 132:52, 54). O Senhor advertiu que, se ela não obedecesse a Seus mandamentos, ela seria “destruída” (D&C 132:54) — querendo dizer que ela seria afastada ou separada da presença de Deus (comparar com Atos 3:22–23; 1 Néfi 22:20; 3 Néfi 21:11). Essa advertência é semelhante à que o Senhor deu a Emma numa revelação em julho de 1830, quando Ele disse: “Guarda meus mandamentos continuamente e receberás uma coroa de retidão. E, a não ser que faças isso, onde estou não poderás vir” (D&C 25:15). O profeta Joseph Smith tinha recebido uma advertência semelhante quando “um anjo de Deus se pôs diante dele com uma espada desembainhada e disse que, a menos que ele prosseguisse e estabelecesse o casamento plural, seu sacerdócio seria retirado e ele seria destruído!” (Smith, Biography and Family Record of Lorenzo Snow, pp. 69–70.)

Em contraste às advertências que o Senhor deu a Emma, como lemos em Doutrina e Convênios 132:52, 54, o Senhor também lhe prometeu o seguinte se ela aceitasse esse mandamento: “Que minha serva perdoe a Joseph suas ofensas; (…) então a ela ser-lhe-ão perdoadas suas ofensas, as que cometeu contra mim; e eu, o Senhor teu Deus, abençoá-la-ei e multiplicá-la-ei, e farei com que seu coração se regozije” (D&C 132:56).

Depois que o profeta ditou a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 132, seu irmão Hyrum a levou para que Emma a lesse, acreditando que poderia “convencê-la de sua veracidade” e ajudá-la a aceitar o princípio do casamento plural (William Clayton, em History of the Church, vol. 5, p. xxxii). Quando ele retornou ao escritório do profeta, na Loja de Tijolos Vermelhos, “Joseph perguntou se ele tivera sucesso. Hyrum respondeu que nunca tinha ouvido alguém falar com tanta severidade em sua vida, que Emma estava muito amargurada e cheia de ressentimento e raiva.

Joseph comentou serenamente: ‘Eu lhe disse que você não conhecia Emma tão bem quanto eu’” (Clayton, em History of the Church, vol. 5, p. xxxiii).

“Joseph e Emma se amavam e respeitavam profundamente um ao outro”, o que fez com que a obediência do profeta ao casamento plural se tornasse ainda mais difícil para Emma. “Ela vacilava em sua visão do casamento plural, ora apoiando-o, ora condenando-o” (“O casamento plural em Kirtland e Nauvoo”, topics.LDS.org). Um relato feito por Maria Jane Woodward, que trabalhava na casa da família Smith, reflete tanto os sentimentos conflitantes de Emma em relação ao casamento plural quanto o esforço que ela fazia para acreditar na prática e aceitá-la. Maria se lembrou de uma conversa que Emma tivera com ela na manhã em que ela ouvira uma discussão acalorada entre Emma e Joseph no tocante ao casamento plural: “[Emma] me disse que me sentasse na cama ao lado dela, e ambas nos sentamos na cama que eu estava arrumando. Ela parecia muito triste e abatida, e então me disse: ‘O princípio do casamento plural é correto, mas sou como as outras mulheres e tenho por natureza um coração ciumento e posso brigar com Joseph tanto quanto qualquer mulher o faz com o marido, mas o que quero dizer a você é o seguinte. Você me ouviu apontando defeitos a esse princípio. Quero lhe dizer que esse princípio é correto, ele veio de nosso Pai Celestial’, e voltou a falar de seu ciúme. Depois, prosseguiu: ‘Tenho que me arrepender do que eu disse. O princípio é correto, mas tenho um coração ciumento. Agora, nunca diga a ninguém que me ouviu apontando defeitos para Joseph em relação a esse princípio. O princípio é correto e, se eu ou você ou qualquer outra pessoa apontar defeitos nesse princípio, temos que nos humilhar e nos arrepender disso” (“Statement of Sister Maria Jane Woodward of Huntington, Emery County, Utah, Maiden Name, Maria J. Johnston”, incluído em carta de George H. Brimhall para Joseph F. Smith, 21 de abril de 1902, pp. 2–3, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City, Utah).

No dia 28 de setembro de 1843 ou antes disso, Emma recebeu sua investidura do templo, depois do que “ela administrou [as ordenanças do templo] sob a direção de Joseph para muitas outras mulheres” (ver Gracia N. Jones, “My Great-Great-Grandmother Emma Hale Smith”, Ensign, agosto de 1992, pp. 34, 37).

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fotografia de Emma Hale Smith

Emma Hale Smith, 1804–1879

Pouco antes do martírio do profeta, em junho de 1844, Emma escreveu as bênçãos que mais desejava receber do Pai Celestial. Em meio a sua lista de bênçãos, ela escreveu o seguinte:

“Desejo o Espírito de Deus para me conhecer e me compreender, de modo a ser capaz de superar qualquer tradição ou natureza que não contribua para minha exaltação nos mundos eternos. Desejo uma mente fértil e ativa para ser capaz de compreender os desígnios de Deus quando revelados por intermédio de seus servos, sem duvidar. (…)

Desejo de todo o coração honrar e respeitar meu marido como meu líder, disposta a sempre viver confiando nele. Ao agir em harmonia com ele, manterei o lugar que Deus me deu a seu lado” (“Emma Hale Smith Blessing”, 1844, manuscrito datilografado, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City, Utah).

Até a morte dela, em 1879, Emma continuou a prestar testemunho da veracidade do Livro de Mórmon, do evangelho restaurado de Jesus Cristo e da missão profética de seu marido Joseph Smith (ver Jones, “My Great-Great-Great-Grandmother”, p. 36).

Doutrina e Convênios 132:52. “As que foram dadas a meu servo Joseph”

O Senhor instruiu Emma a “[receber] todas as que foram dadas a meu servo Joseph” (D&C 132:52), querendo dizer que ela devia aceitar os casamentos plurais do marido. Alguns desses casamentos eram para esta vida e para eternidade, ao passo que outros eram apenas para a eternidade.

“Durante o período no qual o casamento plural foi praticado, os santos dos últimos dias diferenciavam o selamento para esta vida e para toda a eternidade dos selamentos apenas para a eternidade. Selamentos para esta vida e para toda a eternidade incluíam compromissos e relacionamentos durante esta vida, incluindo a possibilidade de relações sexuais. Selamentos apenas para a eternidade indicavam relacionamentos apenas na próxima vida.

As evidências indicam que Joseph Smith participou de ambos os tipos de selamentos. O número exato de mulheres a quem ele foi selado em vida é desconhecido, porque as evidências são fragmentadas. Algumas mulheres que foram seladas a Joseph Smith testificaram mais tarde que seus casamentos foram para esta vida e para toda a eternidade, enquanto outras indicaram que seus relacionamentos foram apenas para a eternidade.

A maioria das mulheres que foram seladas a Joseph Smith tinha entre 20 e 40 anos de idade na época de seu selamento a ele. A mais velha, Fanny Young, tinha 56 anos de idade. A mais jovem foi Helen Mar Kimball (…), que foi selada a Joseph vários meses antes de completar 15 anos. O casamento nessa idade, impróprio para os padrões de hoje, era legal naquela época e algumas mulheres se casavam na adolescência. Helen Mar Kimball comentou que seu selamento com Joseph Smith havia sido ‘apenas para a eternidade’, sugerindo que o casamento não envolvia relações sexuais. 

(…) Joseph Smith foi selado a várias mulheres que já eram casadas. Nem essas mulheres, nem Joseph deram muitas explicações sobre esses selamentos embora muitas mulheres tenham dito que os selamentos foram apenas para a eternidade. Outras mulheres não deixaram registros, tornando desconhecido o fato de seus selamentos terem sido para esta vida e para toda a eternidade ou apenas para a eternidade.

Há muitas possíveis explicações para essa prática. Esses selamentos talvez tenham providenciado um meio de criar uma ligação ou um vínculo eterno entre a família de Joseph e outras famílias da Igreja. Esses laços se estendiam tanto verticalmente, de pai para filho, quanto horizontalmente, de uma família para outra. Hoje, esses laços eternos são realizados no templo por meio dos casamentos de indivíduos que também são selados à própria família, ligando assim as famílias eternamente. (…)

Esses selamentos podem também ser explicados pela relutância de Joseph em participar do casamento plural devido à tristeza que causaria em sua esposa Emma. Ele pode ter acreditado que o selamento a mulheres casadas cumpriria o mandamento do Senhor sem exigir dele um relacionamento matrimonial normal. Isso poderia explicar por que, de acordo com Lorenzo Snow, o anjo repreendera Joseph por ter ‘hesitado’ em relação ao casamento plural mesmo depois de ele ter iniciado a prática. Depois dessa repreensão, de acordo com essa interpretação, Joseph voltou a se selar principalmente a mulheres solteiras.

Outra possibilidade é a de que, em uma época em que a expectativa de vida era menor do que hoje, mulheres fiéis sentiam urgência em serem seladas pela autoridade do sacerdócio. Muitas dessas mulheres eram casadas com não membros ou ex-mórmons, e mais de uma delas relatou posteriormente que era infeliz em seu casamento. Por viverem numa época em que era difícil obter o divórcio, essas mulheres podem ter acreditado que o selamento a Joseph Smith lhes daria bênçãos que, de outra maneira, elas não teriam na próxima vida.

(…) Depois da morte de Joseph, a maioria dessas mulheres seladas a ele se mudou para Utah com os santos, permanecendo membros fiéis da Igreja e defendendo o casamento plural e Joseph” (“O casamento plural em Kirtland e Nauvoo”, topics.LDS.org).

Doutrina e Convênios 132:58–63. “Se dez virgens lhe forem dadas por essa lei”

A palavra virgem pode se referir a qualquer mulher não casada que seja casta. Essa definição corresponde com a que o presidente John Taylor (1808–1887) ensinou ao dizer que “ninguém a não ser os mais puros, virtuosos, honrados e corretos” deviam praticar o casamento plural (“Discourse”, Deseret News, 26 de abril de 1882, p. 212). Embora não esteja claro por que ou como a palavra virgem está sendo usada em Doutrina e Convênios 132:61–63, o casamento plural, conforme praticado pelo profeta Joseph Smith e pelos primeiros santos, não excluía viúvas ou mulheres que já tinham se casado antes. A passagem parece ilustrar o fato de que os casamentos plurais realizados de acordo com a lei de Deus e por Sua autoridade e direção eram aceitáveis perante Ele.

É importante lembrar que o Senhor dá revelações “a [Seus] servos em sua fraqueza, conforme a sua maneira de falar” (D&C 1:24). Doutrina e Convênios 132 contém uma linguagem matrimonial tradicional usada na época do profeta Joseph Smith. Era comum, por exemplo, na época do profeta dizer que a esposa era “dada” em casamento. Quando a revelação declara que as mulheres são “dadas” a um homem (D&C 132:61) ou que elas “pertencem” a ele (D&C 132:62), isso não significa que as mulheres eram consideradas como propriedade ou que tinham pouco ou nada a dizer em relação ao homem com quem iriam se casar. “As mulheres [da Igreja] eram livres para escolher o cônjuge, seja numa união polígama ou monógama, ou para decidir se iriam se casar ou não” (“O casamento plural em Kirtland e Nauvoo”, topics.LDS.org). No contexto dessa revelação, ao se dizer que as mulheres eram “dadas” a um homem, isso se referia aos casamentos autorizados pelo Senhor e selados pela autoridade de Seu sacerdócio (ver D&C 132:61; ver também D&C 132:39).

Doutrina e Convênios 132:63. “Para multiplicar e encher a Terra”

“Os santos dos últimos dias não entendem todos os propósitos de Deus para instituir, por meio de seus profetas, a prática do casamento plural durante o século 19” (“O casamento plural e as famílias polígamas nos primórdios de Utah”, topics.LDS.org). Contudo, na revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 132, o profeta Joseph Smith ficou sabendo que um dos propósitos do casamento plural é “multiplicar e encher a Terra” (D&C 132:63; ver também Gênesis 1:28). O profeta Jacó, do Livro de Mórmon, explicou que o Senhor às vezes ordena a Seu povo que pratique o casamento plural para que possam “suscitar posteridade para [Ele]” (Jacó 2:30). “Suscitar posteridade para [o Senhor]” significa “[criar os] filhos [na] luz e verdade” do evangelho (D&C 93:40). Assim, em certas ocasiões, o Senhor estabeleceu a prática do casamento plural para dar a Seu povo mais oportunidades de criar os filhos no convênio do evangelho. A prática do casamento plural na Igreja no século 19 “resultou no nascimento de um grande número de filhos dentro de fiéis lares santos dos últimos dias” (“O casamento plural e as famílias polígamas nos primórdios de Utah”, topics.LDS.org).

A prática do casamento plural “também moldou a sociedade mórmon do século 19 de outras maneiras: o casamento se tornou disponível para praticamente todos os que o desejaram; a desigualdade per capita da riqueza foi diminuída visto que mulheres economicamente desfavorecidas se casaram em lares mais estáveis financeiramente; e os casamentos entre etnias diferentes aumentaram, o que ajudou a unir a diversa população imigrante” (“O casamento plural e as famílias polígamas nos primórdios de Utah”, topics.LDS.org).

Doutrina e Convênios 132:63. “Para sua exaltação nos mundos eternos”

Muitos dos primeiros líderes e membros da Igreja não faziam distinção entre o casamento celestial e o casamento plural ao discutirem os requisitos para a exaltação. Na revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 132, o Senhor ensinou que, “se um homem se casar com uma mulher pela minha palavra, que é a minha lei, e pelo novo e eterno convênio e for selado pelo Santo Espírito da promessa por aquele que foi ungido”, eles receberão “exaltação e glória em todas as coisas” e “serão deuses” (D&C 132:19–20). Assim, “o novo e eterno convênio do casamento” (D&C 131:2) é o casamento eterno, ou celestial, entre um homem e uma mulher. O Senhor prometeu as mesmas bênçãos de “exaltação nos mundos eternos” aos santos fiéis que vivessem o princípio do casamento plural (D&C 132:63; ver também D&C 132:55), mas o casamento celestial — e não o casamento plural — é exigido para a exaltação.

Em 1933, o presidente Heber J. Grant e seus conselheiros na Primeira Presidência explicaram que o termo “casamento celestial” não implica casamento plural: “O casamento celestial — ou seja, o casamento para esta vida e para a eternidade — e o casamento polígamo ou plural não são termos sinônimos. Os casamentos monogâmicos para esta vida e para a eternidade, solenizados em nossos templos de acordo com a palavra do Senhor e as leis da Igreja, são casamento celestiais (em James R. Clark, comp., Messages of The First Presidency of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1971, vol. 5, p. 329).

O élder Bruce R. McConkie ensinou que o casamento monogâmico — o casamento entre um homem e uma mulher — é o padrão do Senhor para o casamento celestial: “O casamento plural não é essencial para a salvação ou para a exaltação. A Néfi e a seu povo foi negada a permissão de terem mais de uma esposa. Mesmo assim eles poderiam obter todas as bênçãos da eternidade que o Senhor oferece a qualquer povo. Em nossos dias, o Senhor resumiu por revelação toda a doutrina da exaltação e a baseou no casamento entre um homem e uma mulher (D& & C 132:1–28). Depois disso, Ele acrescentou os princípios referentes à pluralidade de esposas com a condição específica de que esses casamentos somente seriam válidos se autorizados pelo presidente da Igreja (D& & C 132:7, 29–66)” (Mormon Doctrine, 2ª ed., 1966, pp. 578–579).

Doutrina e Convênios 132:64–66. “A lei de Sara”

As instruções que se encontram em Doutrina e Convênios 132:64–66 aparentemente se relacionam com as circunstâncias específicas de Joseph e Emma Smith. O Senhor se refere a “um homem que possui as chaves desse poder” e à esposa desse homem (D&C 132:64; ver também D&C 132:7 e o comentário sobre Doutrina e Convênios 132:7, neste manual). O Senhor explicou que, após o profeta Joseph Smith ter ensinado a Emma “a lei do meu sacerdócio” referente ao casamento plural, ela tinha a obrigação de “acreditar” em Joseph e apoiá-lo à medida que ele obedecesse ao mandamento dado pelo Senhor de se casar com outras mulheres (D&C 132:64). Ao fazer isso, Emma estaria seguindo o exemplo de Sara, “que apoiou Abraão de acordo com a lei, quando [o Senhor ordenou] que Abraão tomasse Agar como esposa” (D&C 132:65; ver também D&C 132:34).

Declaração Oficial 1: Informações históricas adicionais

Quando o profeta Joseph Smith estabeleceu o casamento plural de acordo com o mandamento do Senhor, relativamente poucos membros da Igreja tomaram ciência da prática. “O casamento plural foi introduzido entre os santos gradualmente, e foi solicitado aos participantes que mantivessem seus atos confidenciais” (“O casamento plural em Kirtland e Nauvoo”, topics.LDS.org). Depois que os santos se mudaram para o Vale do Lago Salgado e outras regiões do oeste dos Estados Unidos, mais membros da Igreja praticaram abertamente o casamento plural, e a obediência ao princípio se tornou amplamente difundida. Durante uma conferência da Igreja realizada em Salt Lake City, em 29 de agosto de 1852, o élder Orson Pratt, do Quórum dos Doze Apóstolos, agindo sob a direção do presidente Brigham Young, ensinou o princípio do casamento plural e declarou que “os santos dos últimos dias aceitaram a doutrina do [casamento plural] como parte de sua fé religiosa” (em “Minutes of a Special Conference of Elders of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, Assembled in the Tabernacle, Great Salt Lake City, August 28, 1852”, The Latter-Day Saints’ Millennial Star, suplemento, 1853, p. 18). Nos anos que se seguiram, líderes políticos e religiosos nos Estados Unidos se opuseram à prática, considerando-a imoral e não civilizada. Entretanto, os membros da Igreja defenderam o casamento plural, testificando que Deus o havia ordenado por meio de revelação ao profeta Joseph Smith.

“Começando em 1862, o governo dos Estados Unidos aprovou uma série de leis destinadas a forçar os santos dos últimos dias a abandonar o casamento plural. (…)

Essa oposição do governo fortaleceu a decisão dos santos de resistir ao que eles julgavam ser leis injustas. Os homens polígamos começaram a se esconder, algumas vezes durante anos, mudando de casa em casa e ficando hospedados com amigos e familiares. (…)

Essa campanha antipoligamia criou um grande distúrbio nas comunidades mórmons. O fato de os maridos partirem fez com que as esposas e filhos fossem deixados para cuidar de fazendas e negócios, fazendo com que a renda diminuísse, suscitando uma recessão econômica. Essa campanha também enfraqueceu as famílias. As novas esposas plurais tinham que viver longe dos maridos, com seu casamento confidencial sendo de conhecimento de apenas poucas pessoas. As mulheres grávidas com frequência decidiam se esconder, algumas vezes em lugares isolados, em vez de arriscar serem intimadas para testificar em tribunal contra os maridos. Os filhos viviam com medo de que suas famílias fossem destruídas ou que fossem forçados a testemunhar contra seus pais. Alguns filhos se escondiam e viviam com nomes falsos” (“O manifesto e o fim do casamento plural”, topics.LDS.org).

As leis que foram criadas para impedir o casamento plural negavam aos homens que praticavam o casamento plural o direito de votar e de ter cargos políticos; rejeitavam, ou cancelavam, o direito das mulheres de votar no estado de Utah; dissolviam a Igreja como instituição legal e autorizavam o governo a confiscar todas as propriedades da Igreja com valor de 50 mil dólares ou mais, incluindo os templos. A Igreja contestou essa lei considerando-a inconstitucional, mas ela acabou sendo aprovada pela Suprema Corte dos Estados Unidos (ver Encyclopedia of Mormonism, 1992, “History of the Church: c. 1878–1898, Late Pioneer Utah Period”, vol. 2, pp. 625–627, eom.byu.edu).

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Templo de Manti Utah

As medidas antipoligamia tomadas pelo governo federal dos Estados Unidos implicavam o risco de perda dos templos da Igreja, inclusive do Templo de Manti Utah, que fora dedicado em 1888.

Em agosto de 1890, os líderes da Igreja ficaram sabendo que o governo dos Estados Unidos pretendia confiscar os templos de Logan, Manti e St. George (ver Abraham H. Cannon, Candid Insights of a Mormon Apostle: The Diaries of Abraham H. Cannon, 1889–1895, ed. por Edward Leo Lyman, 2010, p. 124; ver também In the Whirlpool: The Pre-Manifesto Letters of President Wilford Woodruff to the William Atkin Family, 1885–1890, ed. por Reid L. Neilson, 2011, p. 91). Isso levou o presidente Wilford Woodruff a se reunir em conselho com outros líderes da Igreja e buscar fervorosamente conhecer a vontade do Senhor a respeito da prática do casamento plural. Em 25 de setembro de 1890, ele escreveu o seguinte em seu diário: “Cheguei a um ponto da história de minha vida como presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em que tenho a necessidade de agir em favor da salvação temporal da Igreja. O governo dos Estados Unidos tomou uma posição e promulgou leis para destruir os santos dos últimos dias no tocante à poligamia, ou a ordem patriarcal do casamento, e após orar ao Senhor e me sentir inspirado pelo Espírito, redigi uma proclamação” (em Clark, Messages of the First Presidency, 1966, vol. 3, p. 192). A proclamação do presidente Woodruff, que se encontra em Doutrina e Convênios como Declaração Oficial 1, “foi anunciada para o público em 25 de setembro e ficou conhecida como o Manifesto” (“O Manifesto e o fim do casamento plural”, topics.LDS.org). Ele “foi aceito pela Igreja como oficial e obrigatório em 6 de outubro de 1890” (Declaração Oficial 1, cabeçalho).

Declaração Oficial 1

O presidente Wilford Woodruff publica o Manifesto, que leva ao fim da prática do casamento plural na Igreja

Declaração Oficial 1, parágrafos 1–3. “Não estamos ensinando a poligamia, ou seja, o casamento plural, nem permitindo que qualquer pessoa adote tal prática”

Nos anos que se seguiram à publicação do Manifesto, os líderes da Igreja, em espírito de oração, fizeram mudanças na prática do casamento plural, na esperança de reduzir as hostilidades contra os santos dos últimos dias. Eles aconselharam os homens que haviam contraído casamentos plurais “a viver abertamente apenas com uma de suas esposas e recomendaram que o casamento plural não fosse ensinado publicamente. Em 1889, as autoridades da Igreja proibiram a realização de novos casamentos plurais em Utah” (“O Manifesto e o fim do casamento plural”, topics.LDS.org). O presidente Wilford Woodruff também demoliu a Casa de Investiduras em Salt Lake City, depois de saber de um casamento plural realizado ali sem seu conhecimento (Declaração Oficial 1, parágrafo 3). Por mais de 30 anos, a Casa de Investiduras havia servido como um templo temporário onde os membros da Igreja realizavam as ordenanças do templo, inclusive selamentos de casais. Em junho de 1890, a Primeira Presidência instruiu os líderes da Igreja a não realizarem novos casamentos plurais nos Estados Unidos embora ainda o permitissem de forma limitada nas comunidades de santos dos últimos dias no México e no Canadá (ver Thomas G. Alexander, “The Odyssey of a Latter-day Prophet: Wilford Woodruff and the Manifesto of 1890”, em Banner of the Gospel: Wilford Woodruff, ed. por Alexander L. Baugh e Susan Easton Black, 2007, p. 301). Quando o presidente Woodruff declarou que a Igreja não mais ensinaria oficialmente o princípio do casamento plural, “nem [permitiria] que qualquer pessoa [adotasse] tal prática”, ele estava se referindo especificamente aos relatos de novos casamentos plurais realizados no território de Utah (Declaração Oficial 1, parágrafo 2).

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Casa de Investiduras, Salt Lake City, Utah

A Casa de Investiduras serviu como um “templo temporário” de 1855 até 1889. Estava localizada na esquina noroeste da Praça do Templo em Salt Lake City, Utah.

Como os membros da Igreja reagiram ao Manifesto?

Por meio século, os membros da Igreja haviam praticado o casamento plural por acreditarem firmemente que Deus o havia ordenado. Muitas pessoas que haviam realizado grandes sacrifícios para obedecer a esse mandamento reagiram ao Manifesto com surpresa e com uma certa ansiedade. Lorena Washburn Larsen relatou a luta que travou após saber do Manifesto e a confirmação que recebeu posteriormente:

“Eu havia entrado nessa ordem de casamento (…) porque acreditava que Deus havia ordenado a Seu povo que assim o fizesse, e havia sido um grande sacrifício entrar nela e vivê-la como eu achava que Deus queria que eu a vivesse. E, ao pensar nisso, parecia impossível que o Senhor voltasse atrás num princípio que havia custado tanto sacrifício, sofrimento e tribulação. (…)

Minha angústia era inexprimível, e uma densa escuridão tomou conta de minha mente. (…) Imaginei ver a mim e a meus filhos, e várias outras mulheres excelentes e suas famílias, lançados à deriva quando nosso único propósito ao entrar [no casamento plural] havia sido o de servir mais plenamente ao Senhor. Afundei em minha cama e desejei em minha angústia que a terra se abrisse e engolisse a mim e a meus filhos. A escuridão parecia impenetrável.

De repente, ouvi uma voz e senti uma presença poderosa. (…)

Houve uma luz, cujo brilho não pode ser descrito, que preencheu minha alma, e fiquei tão cheia de alegria, paz e felicidade que senti que, a despeito do que me acontecesse no futuro, nunca mais me sentiria triste novamente. Mesmo que as pessoas do mundo inteiro tivessem se reunido para tentar me confortar com toda a sua força, não poderiam se comparar à poderosa Presença invisível que me consolou naquela ocasião. (…)

Nos anos de provação que se seguiram, frequentemente voltei a receber um vislumbre daquela mesma luz” (Autobiograph of Lorena Eugenia Washburn Larsen, 1962, pp. 105–106).

Quando o Manifesto foi anunciado pela primeira vez, o élder Brigham H. Roberts, que servia como membro do quórum dos setenta na época, estava num trem a caminho de Salt Lake City, com vários membros do Quórum dos Doze Apóstolos. Durante sua viagem, o élder John W. Taylor, do Quórum dos Doze Apóstolos, deparou-se com um exemplar do jornal Deseret News Weekly, cuja manchete anunciava o Manifesto, e a mostrou ao élder Roberts. O élder Roberts mais tarde relatou:

“Li [a manchete do jornal] com assombro. Mas, assim que a li, o Espírito me falou, como um facho de luz atravessando toda a minha alma, dizendo: ‘Está certo’, e o assombro passou. Então comecei a ponderar sobre o assunto. Pensei em tudo o que os santos haviam sofrido para apoiar essa doutrina; lembrei-me de meu próprio exílio [na Inglaterra], de meu próprio aprisionamento e do exílio e aprisionamento de outros. Lembrei-me dos sacrifícios que minhas esposas haviam feito e do sacrifício que outras haviam feito para isso. Havíamos pregado o casamento plural, apoiado sua divindade no púlpito, na imprensa. Nossa comunidade havia suportado todo tipo de reprovação do mundo por causa disso — e aquele seria o fim? Eu havia aprendido a esperar que Deus apoiaria aquele princípio e os santos que o seguissem, e o fato de abandoná-lo assim me parecia um procedimento covarde e, quanto mais eu pensava nele, mais ele me desagradava. (…) Eu estava bem irritado e me sentia esmagado e humilhado.

(…) Esse assunto continuou a ser uma provação para mim durante o ano de 1891 e me atormentou muito, mas eu pouco me manifestei a esse respeito; então gradualmente comecei a me lembrar do facho de luz que me sobreveio quando ouvi sobre [o Manifesto] pela primeira vez e finalmente reconciliei meus sentimentos com ele. Talvez eu tenha transgredido ao rechaçar o primeiro testemunho que recebi em relação a isso, permitindo que meus próprios preconceitos e minha própria razão humana e míope contrariassem a inspiração de Deus e o testemunho que me fora prestado de que o Manifesto estava correto. Quando esse fato começou a despontar em minha mente, arrependi-me de meu erro e busquei fervorosamente o Espírito de Deus para receber um testemunho, e ele veio gradualmente” (citado em Ronald W. Walker, “B. H. Roberts and the Woodruff Manifesto”, BYU Studies Quarterly, vol. 22, n. 3, art. 10, 1982, pp. 364–365, scholarsarchive.byu.edu).

Enquanto alguns membros da Igreja reagiram com preocupação ao Manifesto, outros ficaram radiantes e aliviados com o anúncio do presidente Woodruff.

A prática do casamento plural terminou imediatamente com o Manifesto?

“Como no início do casamento plural na Igreja, o fim da prática foi um processo, em vez de um acontecimento único. A revelação veio ‘linha sobre linha, preceito sobre preceito’ (D&C 98:12). (…)

Muitos assuntos práticos precisavam ser resolvidos. O Manifesto não dizia o que as famílias plurais existentes deveriam fazer. Por sua própria iniciativa, alguns casais se separaram ou se divorciaram como resultado do Manifesto; outros maridos deixaram de coabitar com todas as esposas, morando apenas com uma, mas continuaram a prover apoio financeiro e emocional a todos os seus dependentes. Em reuniões a portas fechadas com líderes locais, a Primeira Presidência censurou os homens que deixaram suas esposas usando o Manifesto como justificativa. ‘Eu não disse, não diria nem poderia lhes dizer que abandonassem suas esposas e seus filhos’, disse-lhes o presidente Woodruff. ‘Isso vocês não podem fazer com honra’ (em Abraham H. Cannon diary, 7 de outubro de 1890, 12 de novembro de 1891).

Acreditando que os convênios que fizeram com Deus e com suas esposas tinham que ser honrados acima de qualquer coisa, muitos maridos, incluindo líderes da Igreja, continuaram a coabitar com suas esposas plurais e a ter filhos com elas durante vários anos no século 20.

(…) Sob circunstâncias excepcionais, um pequeno número de novos casamentos plurais foi realizado nos Estados Unidos entre 1890 e 1904; todavia, não está claro se os casamentos realizados dentro do país eram autorizados.

O número exato de novos casamentos plurais realizados durante esses anos, dentro e fora dos Estados Unidos, não é conhecido.

(…) De modo geral, o registro mostra que o casamento plural era uma prática que estava diminuindo e que os líderes da Igreja estavam de consciência limpa ao obedecer aos termos do Manifesto da maneira que eles os entendiam” (“O Manifesto e o fim do casamento plural”, topics.LDS.org).

Ao falar sobre as escolhas complexas que os santos tiveram de fazer no tocante à prática da poligamia e de sua descontinuação, o élder Dallin H. Oaks, do Quórum dos Doze Apóstolos, declarou:

“Está (…) claro que, durante os processos federais nos anos 1880, vários líderes e membros fiéis da Igreja foram perseguidos, presos, processados e aprisionados por violações de diversas leis proibindo a poligamia ou coabitação. Algumas esposas foram até mandadas para a prisão por se recusarem a testemunhar contra seus maridos; a irmã mais velha de meu avô foi uma delas.

Também está claro que a poligamia não terminou subitamente com o Manifesto de 1890. Os relacionamentos polígamos selados antes que essa revelação fosse anunciada continuaram por uma geração. A realização de casamentos polígamos também continuou por um tempo fora dos Estados Unidos, onde a aplicação do Manifesto ficou incerta por algum tempo. Aparentemente, esses casamentos polígamos também continuaram por cerca de uma década em algumas regiões entre líderes e membros que se aproveitaram dessa ambiguidade e pressão geradas por esse grande conflito entre as leis detestadas e as doutrinas reverenciadas” (“Gospel Teachings about Lying”, Clark Memorandum, periódico da Faculdade de Direito J. Reuben Clark da Universidade Brigham Young, primavera de 1994, p. 16).

Em abril de 1904, o presidente Joseph F. Smith promulgou uma declaração, conhecida como o Segundo Manifesto, afirmando que todos os novos casamentos plurais “[estavam] proibidos, e se qualquer líder do sacerdócio ou membro da Igreja [decidisse] celebrar ou realizar qualquer casamento desse tipo, ele [seria] acusado de cometer transgressão contra Igreja e, consequentemente, excomungado” (Conference Report, abril de 1904, p. 75).

“Os membros da Igreja que rejeitaram o Segundo Manifesto e continuaram a incentivar publicamente o casamento plural ou a contrair novos casamentos plurais foram convocados para conselhos disciplinares da Igreja. Alguns daqueles que foram excomungados se reuniram em movimentos independentes, sendo às vezes chamados de fundamentalistas. Esses grupos não são afiliados de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias nem têm o apoio dela. Desde a administração de Joseph F. Smith, os presidentes da Igreja têm enfatizado repetidamente que a Igreja e seus membros não estão mais autorizados a participarem de casamento plural e têm enfatizado a sinceridade de suas palavras ao estimular os líderes locais a levar membros desobedientes aos conselhos disciplinares da Igreja” (“O Manifesto e o fim do casamento plural”, topics.LDS.org).

Ao falar sobre o posicionamento da Igreja a respeito da poligamia, o presidente Gordon B. Hinckley (1910–2008) declarou:

“Não existe o que alguns chamam de ‘fundamentalistas mórmons’. Há uma contradição no uso simultâneo dos dois termos.

Há mais de um século, Deus revelou claramente a Seu profeta, Wilford Woodruff, que a prática do casamento plural deveria ser abolida, o que significa que agora ela é contrária à lei de Deus. Mesmo em países em que a lei civil ou religiosa permite a poligamia, a Igreja ensina que o casamento deve ser monogâmico e não aceita como membros os que praticam o casamento plural” (“O que as pessoas estão perguntando a nosso respeito?”, A Liahona, janeiro de 1999, p. 84).

Declaração Oficial 1, parágrafo 6. “Consideremos [o presidente Woodruff] plenamente autorizado, em virtude de sua posição, a expedir o Manifesto”

O casamento plural só pode ser autorizado por meio das chaves do sacerdócio portadas pelo presidente da Igreja (ver D&C 132:39, 45–48). O presidente Joseph F. Smith ensinou: “[O] presidente é o porta-voz de Deus, o revelador, o tradutor, o vidente e o profeta de Deus para toda a Igreja. É ele que possui as chaves deste santo sacerdócio: as chaves que destrancam as portas dos templos de Deus e das ordenanças de Sua casa para a salvação dos vivos e a redenção dos mortos” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph F. Smith, 1998, p. 141). Como presidente da Igreja, Wilford Woodruff estava “plenamente autorizado” a receber a vontade do Senhor para a Igreja para dar um fim à prática do casamento plural (Declaração Oficial 1, parágrafo 6).

Para explicação adicional a respeito de como a prática do casamento plural era governada pelas chaves do sacerdócio em poder do presidente da Igreja, ver o comentário sobre Doutrina e Convênios 132:39–40, 45, neste capítulo.

Declaração Oficial 1, “Trechos de três discursos do presidente Wilford Woodruff a respeito do Manifesto”, parágrafo 1. “O Senhor jamais permitirá que (…) [o presidente] [d]esta Igreja vos desvie do caminho verdadeiro”

Alguns membros da Igreja tiveram dificuldades para aceitar o Manifesto como a vontade do Senhor. Em um discurso de conferência geral proferido menos de duas semanas após expedir o Manifesto, o presidente Wilford Woodruff testificou aos membros da Igreja: “O Senhor jamais permitirá que eu ou qualquer outro homem que presida esta Igreja vos desvie do caminho verdadeiro. Isso não faz parte do plano. Não é a intenção de Deus. Se eu tentasse fazê-lo, o Senhor me afastaria de meu lugar, o mesmo acontecendo com qualquer outro que tentasse afastar os filhos dos homens dos oráculos de Deus e de seus deveres” (Declaração Oficial 1, “Trechos de três discursos do presidente Wilford Woodruff a respeito do Manifesto”, parágrafo 1).

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Wilford Woodruff

Presidente Wilford Woodruff (1807–1898)

Os ensinamentos do presidente Woodruff não devem dar a entender que os profetas são perfeitos ou infalíveis. Por exemplo, em diversas ocasiões, o Senhor reconheceu as fraquezas e imperfeições do profeta Joseph Smith (ver D&C 3:1–10; 64:3–7; 124:1), mas Ele também afirmou que o profeta havia cumprido sua missão divina com sucesso apesar dessas imperfeições (ver D&C 136:37–39; ver também D&C 135:3–7).

Ao falar sobre a necessidade de revelação contínua, o presidente James E. Faust (1920–2007), da Primeira Presidência, ensinou:

“Foi-nos prometido que o presidente da Igreja, como o revelador para a Igreja, receberá orientação para todos nós. Nossa segurança depende de darmos ouvidos àquilo que ele fala e seguirmos seus conselhos. (…)

Como podemos ter certeza de que os profetas, videntes e reveladores jamais desviarão esse povo do caminho verdadeiro, como foi prometido? (Ver Joseph Fielding Smith, “Eternal Keys and the Right to Preside”, Ensign, julho de 1972, p. 88.) Uma das respostas está no grande princípio que se encontra na seção 107 de Doutrina e Convênios: ‘E toda decisão tomada por um desses quóruns deve sê-lo pelo voto unânime do mesmo’ (D&C 107:27). Esse requisito de unanimidade ajuda a controlar atitudes tendenciosas e peculiaridades pessoais. Garante que Deus dite as regras pelo Espírito, não o homem pela voz da maioria ou por negociação. Garante também que toda a sabedoria e a experiência das autoridades gerais sejam usadas para examinar o assunto antes que as impressões profundas e incontestáveis da orientação revelada sejam recebidas. A unanimidade protege contra as fraquezas humanas” (“Revelação contínua”, A Liahona, janeiro de 1990, p. 11).

Os membros da Igreja têm o privilégio e a responsabilidade de saber por si mesmos que o Senhor inspira e dirige aqueles chamados para liderar a Igreja. Depois que o Manifesto foi apresentado na conferência geral para o voto de apoio dos membros da Igreja, o presidente George Q. Cannon (1827–1901), da Primeira Presidência, fez um discurso para os santos. Em suas considerações, ele fez o seguinte convite às pessoas que tinham dúvidas em relação ao Manifesto: “Busquem a Deus por conta própria se estiverem sendo provados nisso e não conseguirem enxergar seu propósito; vão para um lugar onde possam ficar sozinhos e perguntem a Deus e peçam a Ele, em nome de Jesus, que lhes dê um testemunho assim como Ele nos deu, e prometo-lhes que não voltarão de mãos vazias ou insatisfeitos; vocês terão um testemunho, e luz será derramada sobre vocês, e verão coisas que talvez não consigam ver e compreender no momento” (em Collected Discourses Delivered by President Wilford Woodruff, His Two Counselors, the Twelve Apostles, and Others, comp. por Brian H. Stuy, 1988, vol. 2, p. 133).

Declaração Oficial 1, “Trechos de três discursos do presidente Wilford Woodruff a respeito do Manifesto”, parágrafos 4–7. “O Deus do céu me [ordenou] fazer o que fiz”

Um ano após publicar o Manifesto, o presidente Wilford W. Woodruff falou aos membros da Igreja numa conferência de estaca realizada em Logan, Utah. Ele declarou: “O Senhor me disse por revelação que há muitos membros da Igreja por toda a Sião que estão sendo duramente provados em seu coração devido ao [Manifesto]” (“Remarks Made by President Wilford Woodruff”, Deseret Evening News, 7 de novembro de 1891, p. 4). Ele convidou os santos a refletirem sobre a mesma questão em que ele havia ponderado, discutido com outros líderes da Igreja e levado ao Senhor em fervorosa oração: “Qual o melhor caminho a ser seguido pelos santos dos últimos dias — continuar tentando a prática do casamento plural, contrariando as leis do país (…) ou então, após fazer e sofrer o que fizemos e sofremos por termos aderido a esse princípio, abandonar tal prática e submeter-nos à lei, dessa forma permitindo que os Profetas, Apóstolos e pais de família permaneçam em seus lares, de modo a poderem instruir o povo e cuidar dos assuntos da Igreja, deixando também os templos nas mãos dos santos a fim de realizarem as ordenanças do Evangelho tanto para os vivos como para os mortos?” (Declaração Oficial 1, “Trechos de três discursos”, parágrafo 5.) Ele então testificou: “O Senhor mostrou-me, por meio de visão e revelação, exatamente o que ocorreria se não abandonássemos essa prática. Se não a tivéssemos abandonado, esses homens do Templo de Logan (…) não teriam qualquer utilidade; pois as ordenanças seriam interrompidas em toda a terra de Sião. Reinaria confusão em Israel e muitos homens seriam encarcerados”. Mas ele declarou sua disposição de continuar a prática do casamento plural a despeito das consequências, “não tivesse o Deus do céu [lhe] ordenado fazer o que [ele fez]” (Declaração Oficial 1, “Trechos de três discursos”, parágrafos 6–7).

Uma verdade que podemos aprender com os ensinamentos do presidente Woodruff é a de que o Senhor provê revelação contínua a Seus profetas de acordo com as necessidades e circunstâncias de Sua Igreja e Seu povo. O presidente John Taylor ensinou:

“Da época em que Adão primeiramente comunicou-se com Deus à época em que João recebeu sua mensagem na Ilha de Patmos, ou àquela em que os céus se abriram a Joseph Smith, sempre foi necessário receber novas revelações, adequadas à situação específica na qual a igreja ou indivíduo estivesse.

As revelações feitas a Adão não ensinaram Noé a construir a arca; nem as de Noé diziam a Ló que abandonasse Sodoma e nenhuma delas falava da saída dos filhos de Israel do Egito. Essas pessoas receberam as revelações de que precisavam e o mesmo aconteceu com Isaías, Jeremias, Ezequiel, Jesus, Pedro, Paulo, João e Joseph. O mesmo tem de acontecer conosco” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: John Taylor, 2001, p. 158).

Desse modo, circunstâncias novas e mudanças exigem revelação adicional de Deus. Mesmo que acontecimentos externos, tal como a oposição intensa contra o casamento plural, possam criar a necessidade de nova revelação, no fim é o Senhor quem dirige a Igreja e Seus membros por meio de revelação.