Recursos para a família
Quarta Sessão: Educar os Filhos


Quarta Sessão

Educar os Filhos

“Cuidem de seus pequeninos, recebam-nos em seu lar e amem-nos de todo o coração.”

Presidente Gordon B. Hinckley

Objetivos Da Sessão

Nesta sessão, ajude os pais a:

  • Compreender a importância de educar bem os filhos;

  • Ter consciência das diferentes maneiras de educar e cuidar dos filhos;

  • Aprender e aplicar o processo de cinco passos chamado “treinamento emocional”.

A Necessidade de Educar

O Presidente Gordon B. Hinckley salientou a importância de educarmos os filhos: “Criem os filhos com amor, na doutrina e admoestação do Senhor. Cuidem de seus pequeninos, recebam-nos em seu lar e amem-nos de todo o coração”.1

Educar implica atender às necessidades dos filhos de modo terno e amoroso. Inclui nutrir (física, emocional e espiritualmente), amar, ensinar, proteger, ajudar, apoiar e incentivar.

Os pais desempenham um papel crucial na preparação dos filhos para que os filhos possam lidar com as muitas dificuldades da vida. Os filhos que forem educados corretamente estarão mais bem preparados para permanecer de pé em momentos difíceis. Trata-se de uma das coisas mais importantes que os pais podem fazer pelos filhos.

Infelizmente, certos pais e mães atarefados negligenciam seus filhos. Há muitos anos, pais, educadores e líderes religiosos e comunitários vêm preocupando-se com o bem-estar de crianças entregues à própria sorte. De magnitude ainda maior são os problemas ligados à destruição do casamento. As mães e pais que se debatem em relacionamentos difíceis em geral estão menos aptos a ensinar, acalmar e consolar seus filhos. Os filhos tendem a sentir a dor e perda ligadas à discórdia no relacionamento dos pais. Mesmo quando os pais não se divorciarem, os filhos sofrem as conseqüências das escolhas feitas por outras pessoas e do fato de viverem num mundo mortal e imperfeito. Embora alguns desses problemas sejam difíceis, muitos podem ser evitados.

As escrituras proporcionam um alicerce doutrinário para a educação dos filhos. O salmista explicou a origem divina dos pais e filhos: “Vós sois deuses, e todos vós filhos do Altíssimo” (Salmos 82:6). Da mesma forma, Paulo ensinou que todos “somos filhos de Deus” (Romanos 8:16). Deus confiou Seus filhos aos cuidados de pais terrenos. Os pais têm a sagrada responsabilidade de ajudar os filhos a regressarem à presença Dele. Paulo aconselhou os pais: “Criai [os filhos] na doutrina e admoestação do Senhor” (Efésios 6:4). O Senhor deixou instruções semelhantes com o Profeta Joseph Smith: “Ordenei que criásseis vossos filhos em luz e verdade” (D&C 93:40).

Os profetas modernos reafirmaram esta verdade das escrituras. A Primeira Presidência e o Quórum dos Doze proclamaram solenemente: “Os pais têm o sagrado dever de criar os filhos com amor e retidão, atender a suas necessidades físicas e espirituais, ensiná-los a amar e !servir uns aos outros, guardar os mandamentos de Deus e ser cidadãos cumpridores da lei (…). O marido e a mulher — o pai e a mãe — serão considerados responsáveis perante Deus pelo cumprimento dessas obrigações”.2

Os pais nunca devem perder de vista sua responsabilidade sagrada de cuidar dos filhos. O Presidente Gordon B. Hinckley aconselhou-os: “Continuem a cuidar de seus filhos e a amá-los. (…) Entre todos os seus bens, não há nada tão valioso quanto os filhos“.3

Maneiras de Educar os Filhos

A educação deve assumir várias maneiras, incluindo:

  • Ensinar aos filhos as verdadeiras doutrinas de salvação. O Presidente Ezra Taft Benson ressaltou que os pais dignos da época do Livro de Mórmon ensinavam aos filhos “‘o grande plano do Deus Eterno’ — a Queda, o renascimento, a Expiação, o Juízo Final e a vida eterna (ver Alma 34:9). Enos disse que seu pai era um homem justo: ‘Pois instruiu-me em seu idioma e também nos preceitos e na admoestação do Senhor (…)’ (Enos 1:1)”.4

  • Promover o desenvolvimento espiritual por meio do estudo das escrituras, da oração, da noite familiar e da participação nas atividades da Igreja.

  • Prover alimentos, roupas e moradia aos filhos.

  • Falar com os filhos e ouvi-los de modo cristão.

  • Ensinar um comportamento adequado.

  • Impor conseqüências para o mau comportamento.

  • Demonstrar amor, respeito e dedicação.

  • Dar bom exemplo.

  • Ensinar o valor do trabalho e proporcionar oportunidades de serviço.

  • Ensinar disciplina financeira e bons princípios de administração do dinheiro, incluindo pagar o dízimo e poupar.

  • Proporcionar divertimento e atividades recreativas salutares.

Uma das maiores oportunidades para educar os filhos surge quando eles enfrentam problemas ou dificuldades.

Ajudar os Filhos em Momentos Difíceis

Quando as pessoas enfrentam problemas, às vezes precisam de ajuda: um ouvido atento, uma mão amiga ou uma sugestão de um amigo confiável. O Presidente Spencer W. Kimball explicou que “em geral é por meio de outra pessoa que [Deus] atende a nossas necessidades”.5 Quando passam por dificuldades, os filhos mais do que nunca precisam do auxílio dos pais, pois os pais, mais do que ninguém, desejam o melhor para eles. Os pais devem ser os principais aliados dos filhos, seus amigos nos momentos de necessidade. Os pais têm a oportunidade e obrigação de atender às necessidades dos filhos. A maneira como os pais o fazem em geral influencia a impressão que os filhos têm do Pai Celestial e Sua disposição de amá-los e ajudá-los.

No tocante ao papel da mãe, o Élder Russell M. Nelson, do Quórum dos Doze, afirmou: “Quando (…) os filhos voltarem para casa ao fim do dia, frustrados com a dura realidade do mundo, uma mãe amorosa pode dizer: ‘Venham a mim. Vou dar-lhes repouso’. Seja onde for, ela poderá transformar seu lar num lugar santificado, protegido das tempestades da vida. Lá, os filhos encontrarão refúgio, em virtude de capacidade materna de acolhê-los e amá-los incondicionalmente”.6 Isso se aplica também ao pai.

Num estudo realizado com 119 famílias ao longo de 20 anos, o psicólogo John Gottman, da Universidade de Washington, verificou que os casais que tinham mais sucesso como pais eram os que conseguiam ajudar os filhos quando mais precisavam: quando angustiados e aflitos. Os pais bem-sucedidos faziam cinco coisas — todas ligadas à educação — que concediam aos filhos um melhor alicerce para a vida.

Gottman usou a expressão “treinamento emocional” para descrever as atitudes desses pais. Verificou que os filhos que recebiam uma boa educação aprendiam a compreender seus sentimentos e a lidar melhor com eles, a conviver bem com as pessoas e a resolver problemas satisfatoriamente. Tinham também melhor saúde física, melhor desempenho escolar, melhores relacionamentos com os amigos, menos problemas comportamentais, mais sentimentos positivos e melhor equilíbrio emocional.7 O processo de treinamento emocional — constituído de cinco passos8 — está resumido abaixo.

Primeiro Passo: Estar Atento às Emoções dos Filhos

Os pais bem-sucedidos conseguiam reconhecer os sentimentos dos filhos e reagir de modo condizente. Os sentimentos são parte integrante e essencial da vida. Os pais que reconhecem e aceitam seus próprios sentimentos acham mais fácil reconhecer e aceitar os sentimentos dos filhos. Os filhos que vêem os pais lidar com sentimentos difíceis de maneira eficaz tendem a aprender a administrar bem suas próprias emoções.

As crianças e jovens costumam emitir sinais quando algo os incomoda. Podem, por exemplo, mostrar problemas comportamentais, sofrer mudanças de apetite, isolar-se, tirar notas ruins na escola ou apresentar uma fisionomia triste.

Ao conseguirem reconhecer quando um filho está desorientado e sentirem profunda preocupação por ele, os pais dão provas de empatia. A capacidade de ter empatia aumentará a eficácia dos pais na educação dos filhos.

Lucas

Lucas, de quatro anos, entrou na sala para ver televisão com a mãe e dois irmãos. Antes de sentar-se, ficou de pé por alguns momentos em frente a uma cadeira, conversando com Carina, sua irmã. Durante a conversa, Mateus, um irmão mais velho, entrou na sala, afastou a cadeira de Lucas e sentou-se. Sem se dar conta disso, Lucas abaixou-se para sentarse, mas caiu no chão. O pequeno acidente foi engraçado. Todos riram, com exceção de Lucas. Humilhado, correu para seu quarto, trancou-se no armário e começou a chorar. Alguns instantes depois, sua mãe bateu à porta suavemente e abriu-a. Ajoelhou-se ao lado dele, deu-lhe um beijo no rosto e disse: “Sei que você está com vergonha e com raiva. Desculpe por ter rido. Amo você”. Em seguida, ela levantou-se e saiu.

Anos depois, Lucas continuava a recordar esse acontecimento como um dos momentos mais significativos de sua infância. As expressões de afeto eram raras em sua família, mas naquela ocasião, ele sentiu-se compreendido e amado — num momento em que de fato precisava disso. Foi inesquecível.

Segundo Passo: Encarar as Emoções como Oportunidades de Aproximação

Às vezes os pais evitam falar com um filho quando ele está aborrecido, talvez por temerem ser rejeitados ou devido ao receio de terem, de alguma forma, uma parcela de culpa. Muitos pais esperam que as emoções conturbadas dos filhos voltem ao normal sozinhas. Em inúmeros casos, essas emoções não se alteram sem algum tipo de ajuda. Os pais devem encarar esse estado emocional difícil do filho como uma oportunidade de aproximarem-se e crescerem juntos. Ajudar a apaziguar os sentimentos atormentados de um filho é uma das coisas mais gratificantes que os pais podem fazer. Os filhos sentem-se compreendidos e revigorados quando pais bondosos e amorosos reconhecem e compreendem seus sentimentos.

Carlos

Era uma bela e quente manhã de sábado. Oscar sentia-se de bem com a vida e não via a hora de passar o dia em companhia da família. Ao término das tarefas domésticas, pretendia levar os filhos a um piquenique num parque da cidade. A família gostava desses passeios porque sempre havia inúmeras opções de lazer. Quando Oscar pediu que os filhos terminassem o trabalho o mais rápido possível, percebeu que Carlos, o filho de 11 anos, parecia zangado. Carlos lançou um olhar desafiador para o pai, virou as costas e saiu andando. Carlos era um menino muito responsável. Oscar perguntou se poderiam conversar por alguns instantes.

Oscar:

Parece que você ficou com raiva quando toquei no assunto das tarefas. Algo o incomoda?

Carlos:

(Bruscamente.) Não. Vou terminar minhas designações. Não se preocupe.

Oscar:

Parece que você está aborrecido. Qual é o problema? (Escutar ativamente, convidar o filho para falar.)

Carlos:

Desde quando você se importa? Você só quer ver o trabalho terminado, não é mesmo? Então vou acabar.

Oscar:

É verdade que desejo que as tarefas sejam concluídas, mas não é minha única preocupação. Também me importo com seus sentimentos e com o que o está incomodando. Você está com raiva por causa de alguma coisa. E tudo leva a crer que tenho algo a ver com isso. Eu gostaria de saber do que se trata. (Ouvir sem ficar na defensiva, pedir esclarecimentos.)

Carlos:

Não gosto do seu quadro idiota de tarefas — é isso que me irrita. Por que meu nome sempre aparece na lista para as piores tarefas, mais do que todos os outros? Não é justo.

Oscar:

Seu nome não aparece mais vezes. Fiz o quadro justamente para que todos recebam um número igual de designações, com exceção da Júlia e da Ana, que são pequenas demais para as tarefas fora de casa.

Carlos:

Você está enganado. Recebo mais designações do que os outros.

Oscar:

Então você acha que estou sendo injusto com você propositalmente. (Ouvir sem ficar na defensiva.)

Carlos:

Exatamente.

Oscar:

Dê-me um exemplo. (Carlos mostra ao pai que seu nome de fato aparece no quadro de tarefas mais vezes do que o dos dois irmãos. Oscar fica surpreso e incomodado.) Você tem razão. Cometi um erro. Desculpe. Vou corrigir agora mesmo. (Ouvir sem ficar na defensiva — reconhecer um erro.)

Oscar modificou o quadro e deu ao filho uma folga das tarefas na semana seguinte. Carlos não estava mais com raiva e voltaram a fluir bons sentimentos.

Terceiro Passo: Escutar com Empatia e Aceitar os Sentimentos do Filho

Quando o filho expor seus sentimentos, os pais devem reformular com suas próprias palavras o que compreenderam do que foi dito, usando as técnicas de escuta ensinadas na terceira sessão e ilustradas na conversa entre Oscar e Carlos. Poderiam, por exemplo, dizer: “Então você está triste porque seu amigo se mudou”. Se tiver dúvidas sobre o que seu filho estiver dizendo ou sentindo, solicite esclarecimentos. Contudo, indagações intrusivas podem levar o filho a ficar na defensiva e a parar de falar. Em geral, as observações simples surtem melhor efeito. O pai poderia, por exemplo, dizer: “Notei que, quando você começou a falar de notas escolares, parece ter ficado tenso”. Então, o pai deve aguardar e deixar o filho prosseguir. É mais provável que os filhos continuem a falar ao sentirem que têm o controle da conversa e contam com um ouvinte que demonstra empatia e não os critica.

Andréia

Valéria notou que Andréia, sua filha de sete anos, parecia aborrecida ao voltar para casa depois de um dia na escola. Valéria tentou compreender os motivos.

Valéria:

Parece que você está bastante contrariada. Qual é o motivo dessa carranca e desses ombros encolhidos?

Andréia:

Não quero mais ir para a escola.

Valéria:

Você está desanimada com a escola?

Andréia:

Não é culpa da escola; o problema é a Lúcia e a Mariana. Elas não gostam de mim e me insultam quando me vêem. Nem sei por quê. Nunca fiz mal a elas.

Valéria:

Então elas a magoaram e você nem entende os motivos.

Andréia:

Eu sei que elas não gostaram quando fiz amizade com a Melissa. Elas não querem dividi-la com ninguém. Agora estão tentando afastar a Melissa de mim.

Valéria:

Seria muito desagradável. Então você está preocupada que elas consigam destruir sua amizade com a Melissa.

Andréia:

O que mais dói é elas não gostarem de mim. Por que elas ficam incomodadas se a Melissa é minha amiga? Ela pode continuar a brincar com elas também. Nunca fiz nada de mal para elas. (Começa a chorar.)

Valéria:

(Abraça a filha por alguns instantes sem dizer nada e em seguida começa a falar.) Eu também ficaria magoada e triste. É sempre difícil sentir-se rejeitado por alguém.

Andréia:

O que devo fazer?

Valéria:

É uma boa pergunta. Vou ter que pensar a respeito. O que você acha que poderia fazer?

Andréia:

Já tentei ser gentil com elas, mas só dão risadas e fazem caretas para mim. Talvez eu deva ignorá-las. A Melissa disse que seria melhor nem prestar atenção a elas, pois estão sendo muito cruéis. Ela disse que continua minha amiga, mas odeio quando alguém não gosta de mim.

Valéria:

É difícil, não é?

Andréia:

Eu queria que todos gostassem de mim.

Valéria:

Algo que me ajudou é perceber que não posso agradar a todos. Por melhor que você seja e por mais que você faça, sempre haverá alguém que não gosta do que você está fazendo. O melhor é tentar agradar ao Pai Celestial fazendo o que você sente ser correto e o que acha ser a vontade Dele. Assim, o fato de as pessoas gostarem ou não de você terá menos importância.

Andréia:

Então vou continuar a tratá-las bem, mas vou tentar não me incomodar tanto quando elas forem antipáticas comigo.

Valéria:

Parece uma boa solução?

Andréia:

Acho que sim. E sei que me sinto melhor só de poder falar sobre isso.

Valéria:

Depois me diga como foi. Vou ficar torcendo por você.

Andréia:

Obrigada, mãe.

Nesse exemplo, Valéria ajudou a filha a sentir-se melhor em relação a um problema na escola. Ainda que as colegas da Andréia continuem a tratá-la mal, é provável que ela encare a situação com outros olhos e fique menos magoada. Sentirá a compreensão e o apoio da mãe. Ao concentrar seus esforços para fazer o que sente ser certo, mais do que buscar a aprovação alheia, sua auto-estima tenderá a crescer.

Quarto Passo: Ajudar o Filho a Identificar e Nomear as Emoções

Às vezes os pais supõem erroneamente que os filhos conhecem palavras para descrever seus sentimentos mais profundos. No entanto, as crianças e jovens nem sempre têm vocabulário suficente para explicar suas emoções. Os pais que fornecem palavras aos filhos ajudam-nos a transformar sentimentos vagos, indefinidos e desagradáveis em palavras descritivas como “triste”, “zangado”, “frustrado”, “assustado”, “preocupado”, “tenso” e assim por diante. Os filhos começam a sentir que têm o controle de suas emoções quando aprendem palavras para nomeá-las.

O melhor momento para ensinar palavras relacionadas aos sentimentos é quando os filhos os vivenciam. A mãe que vê a filha chorar porque uma amiga está mudando-se pode dizer: “Você deve estar muito triste. Vocês eram amigas muito próximas”. Ao ouvir isso, a menina não só se sente compreendida, mas agora conhece uma palavra para descrever sua experiência.

Alguns estudos mostram que identificar e nomear emoções “pode exercer um efeito calmante sobre o sistema nervoso, ajudando os filhos a recuperar-se mais rapidamente de eventos desconcertantes”.9 Os filhos que carecem de vocabulário relativo aos sentimentos acabam por vezes extravasando-os por meio de ações ou expressões como “cale a boca”, “deixe-me em paz” ou até piores, conforme ilustrado no estudo de caso a seguir.

Pedro

Os pais de Pedro, de sete anos, levaram-no a um psicólogo depois de seu último acesso de ira. Antes eles achavam que, com o passar dos anos, Pedro mudaria seu temperamento irritadiço. Contudo, na véspera, Pedro teve uma crise de fúria quando a mãe se recusou a levá-lo à casa de seu amigo Bruno. Pedro gritou a plenos pulmões, insultou a mãe de todos os nomes e chutou a parede. Quando o psicólogo perguntou o que estava sentindo quando a mãe recusou seu pedido, Pedro respondeu: “Não sei”. Quando perguntou como se sentia ao realizar suas atividades preferidas, deu a mesma resposta. Diante de outras indagações, ficou claro que Pedro não tinha vocabulário para exprimir suas emoções.

A história de Pedro poderia ter sido diferente se ele soubesse descrever seus sentimentos de modo claro e preciso. Ajudar uma criança a aprender nomes que descrevem sentimentos não constitui garantia de que ela se comportará de maneira mais responsável. Contudo, é menos provável que as crianças dêem vazão a seus sentimentos negativos caso consigam falar sobre eles. Da mesma forma, quando os filhos discorrem sobre seus sentimentos, os pais podem aliviar as feridas emocionais com mais facilidade.

Quinto Passo: Fixar Limites para Ajudar os Filhos a Aprender a Resolver Problemas

A sensação de controle de um filho aumenta quando os pais o ajudam a aprender a enfrentar sentimentos desagradáveis. Um filho precisa aprender a lidar com pensamentos e sentimentos desnorteantes de modo construtivo e salutar do ponto de vista emocional. Talvez os pais precisem estabelecer limites no tocante a comportamentos inadequados e ajudar o filho a resolver problemas.

Rubens

Rubens, de doze anos de idade, perdeu uma oportunidade de ouro de marcar um gol, o que fez a equipe perder a partida e a vaga nas finais do campeonato. Ao sair do campo, um de seus companheiros gritou: “Parabéns, perna-de-pau!” Rubens, que já estava sentindo-se péssimo, correu até o menino, agarrou-o pelo pescoço e pelos ombros e tentou jogá-lo ao chão. O pai de Rubens desceu às pressas da arquibancada, puxou o filho, segurou-o com firmeza e disse: “Sei que você está aborrecido e magoado, mas não faça mal a ninguém. Vamos para casa conversar sobre uma maneira melhor de lidar com o problema”.

Em vez de repreender e dar lições de moral, o pai mencionado nesse exemplo pode aproveitar a ocasião para aproximar-se do filho ao ouvi-lo com empatia, mostrar que compreende seus sentimentos e ajudá-lo a examinar outras maneiras de lidar com situações difíceis. Esse processo ajudará Rubens a sentir-se compreendido, valorizado e mais capaz de controlar seus sentimentos.

Se os pais desconhecerem a causa do problema do filho, devem primeiro fazer perguntas para identificar o motivo, a fim de acharem uma solução. Os pais devem fazer perguntas como “O que leva você a sentir-se dessa forma?” Não devem deixar o filho acusar outras pessoas quando estiver claro que não é culpa delas.

Uma vez identificada a causa, os pais podem indagar: “A seu ver, o que resolverá o problema?” Devem ouvir cuidadosamente as respostas do filho. Podem oferecer também algumas sugestões a fim de ajudá-lo a levar em conta outras possibilidades. Com crianças menores, os pais terão que tomar a dianteira. Com filhos mais velhos, será útil enumerar em conjunto todas as soluções possíveis. Nesse processo exaustivo de alistar idéias, os pais não devem considerar nenhuma solução tola ou descabida; as críticas entravam o processo criativo, e os pais e filhos podem escolher as soluções mais convenientes depois. Os pais devem expressar confiança na capacidade do filho de identificar uma solução adequada. Devem deixar o filho assumir o máximo de responsabilidade possível, ajudando-o a crescer e passar da dependência à auto-suficiência.

Em certos casos, pode ser útil para o filho recordar outros momentos de sua vida em que venceu problemas. O que ele fez nessas situações para superar as dificuldades? Será que pode empregar a mesma estratégia para solucionar o problema atual? Há mais sugestões para a resolução de problemas na sétima sessão.

A fase seguinte do quinto passo é avaliar as soluções possíveis. Talvez os pais precisem fazer ao filho perguntas do tipo:10

  • “Esta solução é justa?“

  • “Vai funcionar?“

  • “É segura?”

  • “Como acha que se sentirá?”

  • “Como a solução afetará outras pessoas?”

  • “A solução ajudará ou prejudicará alguém?”

  • “A solução mostra respeito a todos os envolvidos?”

Depois de examinarem as implicações de cada solução, os pais ajudarão o filho a decidir qual é a melhor. Os pais devem dar suas opiniões e orientação — os filhos precisam beneficiar-se de sua sabedoria e experiência. Os pais podem contar suas experiências ao revolverem problemas semelhantes, indicando aos filhos as escolhas que fizeram e o que aprenderam com elas.

Se um filho se mostrar determinado a experimentar uma solução que os pais considerarem fadada ao fracasso, eles podem permiti-lo se o resultado não for nocivo e não provocar problemas sérios ao filho. Com a derrota é que se aprendem algumas das maiores lições da vida. Depois, sem dizerem “Viu? Eu bem que avisei…”, os pais devem ajudar o filho a chegar a outra solução.

Os pais podem considerar sua relação com os filhos como uma conta bancária. Os pais investem no relacionamento tratando bem os filhos, respeitando seus limites, dando ouvidos a seus pensamentos e sentimentos, orientando-os em caso de problemas e disciplinando-os com amor. Cada ato de bondade, amor e respeito é um depósito na conta do relacionamento. Quando o empenho para resolver problemas fracassa, os pais podem fazer uma retirada de fundos caso os investimentos tenham sido suficientes. Essa retirada envolve pedir ao filho que faça algo importante para o pai ou para a mãe. Se um filho quiser, por exemplo, passar o fim de semana com amigos altamente questionáveis, os pais podem pedir-lhe que não vá. Será mais provável que ele obedeça se os pais tiverem feito depósitos suficientes na conta — na forma de amor, respeito e atenção.

Diretrizes para o Envolvimento nos Problemas dos Filhos

Às vezes os pais não sabem até que ponto devem envolver-se quando um filho enfrenta um problema. Os princípios a seguir podem ser úteis.

  • Os pais têm a responsabilidade de ajudar os filhos (ver Mosias 4:14–15; D&C 68:25; 93:40).

  • Os filhos capazes de discernir o bem do mal são responsáveis pelo uso que fizerem de seu arbítrio (ver 2 Néfi 2:27; Morôni 7:12–17; D&C 58:27–29).

  • Ao progredirem rumo à fase adulta, os filhos precisam aprender a cuidar de si mesmos. Como adultos, devem ser auto-suficientes e atender a suas próprias necessidades “sociais, emocionais, espirituais, físicas ou financeiras”.11

Uma parte importante do papel dos pais é ajudar os filhos a crescerem e fazerem a transição da dependência para a auto-suficiência. Os pais podem ajudar os filhos a desenvolver auto-suficiência ensinando-lhes princípios corretos, a fim de que aprendam a governar a si mesmos em retidão e com responsabilidade. Quando os pais se propõem a resolver os problemas dos filhos, sobrecarregam-se desnecessariamente e, ao mesmo tempo, privam os filhos da oportunidade de aprender sobre responsabilidade e auto-suficiência. Normalmente, os filhos acham a resposta para seus próprios problemas, frustrações, tédio e fracassos, tendo os pais como mentores e líderes conforme a necessidade.

Em certos casos, os pais terão que tomar a dianteira na resolução de problemas. Devem fazê-lo quando o filho for muito pequeno, inexperiente ou imaturo para lidar com determinada situação. Os pais também devem intervir quando os filhos os ameaçarem, quando subtraírem ou destruírem bens e objetos ou intimidarem outras pessoas. Nesses casos, os pais podem ajudar confrontando o mau comportamento. As frases com o pronome “eu” como sujeito descritas na terceira sessão são uma boa maneira de abordar o mau comportamento. (Se os dois pais estiverem presentes, devem usar frases com o pronome “nós”, e não “eu”.) Os pais também podem ajudar os filhos a assumirem responsabilidade ao proporem escolhas (discutidas na oitava sessão) ou aplicarem as devidas conseqüências (abordadas na nona sessão).

O Valor Eterno da Educação

Os filhos agirão conforme o esperado se os pais os educarem com amor, bondade e sensibilidade, aplicando as sugestões dessa sessão conforme a necessidade. A educação deve começar bem cedo e continuar ao longo da vida do filho, de modo sábio e adaptado a suas necessidades.

O Presidente Gordon B. Hinckley salientou a necessidade de agirmos em harmonia com o Pai Celestial ao educarmos e amarmos os filhos: “Nunca se esqueçam de que esses pequeninos são filhos de Deus e que o relacionamento que vocês têm com eles é de guarda temporária. Deus foi o pai deles antes de vocês se tornarem pais e não abriu mão de Suas prerrogativas paternas nem perdeu o interesse por esses pequeninos”.12

Notas

  1. Conferência da Estaca Salt Lake University III, 3 de novembro de 1996; Church News, 1° de março de 1997, p. 2.

  2. “A Família: Proclamação ao Mundo”, A Liahona, outubro de 2004, p. 49.

  3. Church News, 3 de fevereiro de 1996, p. 2.

  4. Conference Report, outubro de 1985, p. 47; ou Ensign, novembro de 1985, p. 36.

  5. “Small Acts of Service”, Ensign, dezembro de 1974, p. 5.

  6. Conference Report, outubro de 1989, p. 27; ou Ensign, novembro de 1989, p. 22.

  7. Raising an Emotionally Intelligent Child, de John Gottman, Ph.D., e Joan DeClaire. Prefácio de Daniel Goleman. Todos os direitos reservados © 1997 por John Gottman. Reimpresso com a permissão de Simon & Schuster, Inc., NY. Páginas 16–17.

  8. Raising an Emotionally Intelligent Child, pp. 76–109.

  9. Raising an Emotionally Intelligent Child, p. 100.

  10. Ver Gottman, Raising an Emotionally Intelligent Child, p. 108.

  11. Spencer W. Kimball, em Conference Report, outubro de 1977, p. 124; ou Ensign, novembro de 1977, p. 77.

  12. Church News, 1° de março de 1997, p. 2.

Palavras Relativas Aos Sentimentos

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  • Paralisado

  • Pequeno

  • Perplexo

  • Perseguido

  • Pesaroso

  • Pessimista

  • Péssimo

  • Preguiçoso

  • Preocupado

  • Preparado

  • Preterido

  • Protetor

  • Provocado

  • Radiante

  • Rancoroso

  • Rebaixado

  • Regozijante

  • Rejeitado

  • Relaxado

  • Ressentido

  • Reticente

  • Retraído

  • Reverente

  • Ridículo

  • Satisfeito

  • Saudoso

  • Sensível

  • Sentimental

  • Sereno

  • Sério

  • Sobrecarregado

  • Sobressaltado

  • Solene

  • Solidário

  • Solitário

  • Subestimado

  • Subjugado

  • Submisso

  • Superior

  • Suscetível

  • Tenso

  • Tolerante

  • Tolhido

  • Tolo

  • Traído

  • Transtornado

  • Triste

  • Usado

  • Útil

  • Valorizado

  • Vazio

  • Vingativo