História da Igreja
29. O perdão é como a misericórdia: Jennie Brimhall Knight


“29. O perdão é como a misericórdia: Jennie Brimhall Knight”, Ao Púlpito: 185 anos de discursos proferidos por mulheres santos dos últimos dias, 2017, pp. 121–125

“29. Jennie Brimhall Knight”, Ao Púlpito, pp. 121–125

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O perdão é como a misericórdia

Conferência geral da Sociedade de Socorro

Assembly Hall, Praça do Templo, Salt Lake City, Utah

Quinta-feira, 3 de abril de 1924

Lucy Jane “Jennie” Brimhall Knight (1875–1957) serviu missão na Grã-Bretanha de abril a novembro de 1898 como uma das primeiras missionárias solteiras da Igreja. Sua companheira de missão e futura cunhada, Inez Knight, serviu de abril de 1898 a junho de 1900.1 Como missionária, Jennie falou em reuniões nas Ilhas Britânicas e passou várias semanas no continente europeu. De acordo com uma história antiga, seu trabalho missionário com Inez era exatamente como o dos élderes com quem elas serviram: “Visitar, bater em portas, pregar e se esforçar ao máximo para espalhar o conhecimento da verdade, respeitando a religião e o povo local”.2

Jennie Knight se casou com Jesse Knight, em 18 de janeiro de 1899, e recebeu um diploma de pedagogia da Junta Geral de Educação da Igreja em maio de 1899. Ela serviu cinco anos como presidente da Associação de Melhoramentos Mútuos das Damas na Estaca Taylor, em Raymond, Alberta, Canadá, e oito anos no mesmo cargo na Estaca Utah, quando voltou para Provo, Utah.3 Ela também se dedicou ao trabalho público de apoio às mulheres e à educação, servindo como diretora da Universidade Brigham Young, do outono de 1907 à primavera de 1911, com a designação de garantir o bem-estar das alunas.4 Durante a Primeira Guerra Mundial, Knight foi vice-presidente do Conselho Estadual de Defesa, Divisão da Mulher.5

Imagem
Jennie Brimhall Knight com os filhos Philip e Richard

Jennie Brimhall Knight com os filhos Philip e Richard. Por volta de 1916. Aproximadamente 18 anos antes de esta foto ter sido tirada, Knight foi uma das primeiras mulheres solteiras membros da Igreja a servir como missionária. Fotografia de Larson e Bygreen. (Fotografia em posse da família. Cortesia de Jennifer Whatcott Hooton.)

Jennie foi chamada para a presidência geral da Sociedade de Socorro em 1º de abril de 1921, como primeira conselheira da presidente Clarissa S. Williams.6 Ela continuou a morar em Provo depois de ser chamada para a presidência geral, viajando para Salt Lake City todas as semanas para as reuniões de liderança e por toda a Igreja para participar das convenções de estaca da Sociedade de Socorro.7 Seu diário narra sua administração na Sociedade de Socorro e suas responsabilidades domésticas e assinala as contribuições de seus familiares.8 Certo dia, em 1922, por exemplo, ela registrou que voltou para casa dos deveres da Igreja depois da meia-noite, verificou se sua família estava dormindo e se enfiou na cama. Ela levantou na manhã seguinte para limpar a casa e fazer pêssegos em conserva e depois saiu novamente na semana seguinte para cumprir suas responsabilidades da Igreja nas cidades mais distantes.9

O serviço de Jennie na liderança envolvia não somente falar em congregações locais, mas também participar de causas nacionais mais amplas. Em 1923, ela viajou de trem com Amy Brown Lyman, secretária geral da Sociedade de Socorro, para participar de uma convenção de uma semana de bem-estar social e de uma reunião de planejamento para o Conselho Nacional de Mulheres, em Washington, D.C.10 Ela voltaria a Washington em 1925 para representar a Sociedade de Socorro em uma reunião do Conselho Internacional de Mulheres.11 Jennie se baseou em sua experiência em examinar a natureza humana e ensinar os princípios da Igreja quando falou sobre a contemplação do perdão em uma conferência geral da Sociedade de Socorro em 1924.

Muitas lições esplêndidas foram ensinadas durante essa conferência e tenho certeza de que muitas decisões foram renovadas com o propósito de que devemos ser melhores líderes, melhores exemplos em nossas diferentes comunidades, irmãs mais solidárias, esposas mais dedicadas e mães mais compreensivas.

O grupo reunido aqui, hoje, pertence à classe de mulheres que não têm tempo de ficar ociosas, não têm tempo para se entregar a coisas que sabemos ser um desperdício de tempo e não conduzem ao progresso. Nosso objetivo é servir e nesse serviço encontrar felicidade nesta vida e vida eterna no mundo vindouro.

Ao longo do caminho da vida que conduz à felicidade, estão muitas armadilhas que devem ser evitadas se quisermos atingir nosso objetivo. Uma dessas armadilhas chamarei de rancor. Perto dessa armadilha se ergue um pequeno monte do perdão, que, se estiver bem firme, nos elevará acima das coisas insignificantes da vida para visualizar uma planície maior e mais ampla e um caminho bem definido.

Há muitas ações de homens e mulheres das quais não participamos, não aprovamos nem aceitamos e, embora tenhamos a missão de fazer tudo o que pudermos, em espírito de verdadeira caridade e amor fraternal para mostrar o melhor caminho, o mais perfeito plano de paz, não precisamos odiar nossos semelhantes porque seus caminhos não são os nossos. Devemos deixar nosso Pai julgá-los.

A palavra do Senhor por meio do profeta Joseph Smith, registrada em Doutrina e Convênios, diz: “Eu, o Senhor, perdoarei a quem desejo perdoar, mas de vós é exigido que perdoeis a todos os homens. E devíeis dizer em vosso coração: Que julgue Deus entre mim e ti (…) de acordo com teus feitos”.12

Fiquei sabendo outro dia de uma mulher que morava na mesma rua que o pai dela e, no entanto, não falava com ele por muitos anos. Fiquei sabendo também de uma presidente da Sociedade de Socorro que, ao saber que uma das irmãs se sentia ofendida devido a uma ação por parte da presidência da Sociedade de Socorro, foi à casa dela e tentou falar sobre o assunto, desculpar-se, se necessário, e acertar as coisas, mas essa irmã não conseguiu encontrar nenhum lugar em seu coração para o perdão e, por isso, a presidente voltou sentindo-se triste por aquela irmã. Qual das duas mulheres está mais feliz hoje? Meu pai muitas vezes disse: “O ódio fere mais o que odeia do que o odiado”.13

Pedro, em uma ocasião, disse a Jesus: “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? até sete?” E Jesus lhe disse: “Não te digo: Até sete; mas, até setenta vezes sete”. Então ele disse: “Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis ajustar contas com os seus servos; e (…) foi lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos; e não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e a sua mulher, e filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida fosse paga. Então aquele servo, prostrando-se, o adorava, dizendo: Senhor, sê paciente comigo, e tudo te pagarei. Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o, e perdoou-lhe a dívida.

Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem denários, e lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves. Então o seu conservo, prostrando-se aos seus pés rogava-lhe, dizendo: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. Ele, porém, não quis, antes foi e lançou-o na prisão (…).

Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara. Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará também meu Pai Celestial, se de coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas”.14

Não é verdade que Jesus nos ensinou a orar: “Perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a qualquer que nos deve”?15

Martin Luther, ao comentar sobre isso, disse: “Quando tu dizes: ‘Não perdoarei’, e se coloca diante de Deus com seu ‘paternoster’ e murmura: ‘Perdoa-nos as nossas dívidas’, é o mesmo que dizer: ‘Eu não o perdoo, assim nem tu, Deus, perdoa-me’”.16

Em nosso lar, não guardemos ressentimento uns para com os outros, mas busquemos e oremos diariamente para encontrar um meio de perdoar uns aos outros, lembrando-nos de que o perdão é como a misericórdia: “É duplamente abençoado, abençoa quem o concede e quem o recebe”.17 Se pudéssemos nos tornar como uma criancinha nesse aspecto, seríamos muito mais felizes, pois quem já conheceu uma criancinha que não estivesse disposta a perdoar na primeira indicação de arrependimento por parte do ofensor; sim, e até mesmo antes que o ofensor tenha mostrado qualquer arrependimento? Deus não disse: “Se (…) não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino de Deus”?18

Para aqueles que foram duramente provados e amargamente ofendidos, lembrem-se de que isso exige um coração fervoroso, generoso e misericordioso, com um forte desejo de perdoar, mas se lembrem também de que um coração rancoroso coloca uma barreira entre ele próprio e o perdão de Deus, pois está escrito: “Aquele que não perdoa a seu irmão suas ofensas está em condenação diante do Senhor; pois nele permanece o pecado maior”.19

Portanto, vamos enterrar nossos ressentimentos, quer pertençam à nossa família, nossa Igreja ou ao nosso próximo e cobrir essa armadilha que nos priva de felicidade com uma placa de esquecimento e perdoar como esperamos ser perdoados.

  1. Calvin S. Kunz, “A History of Female Missionary Activity in the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1830–1898” [A história da atividade missionária feminina de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1830–1898], tese de mestrado, Universidade Brigham Young, 1976, pp. 34–37, 54; Andrew Jenson, Latter-day Saint Biographical Encyclopedia: A Compilation of Biographical Sketches of Prominent Men and Women in the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints [Enciclopédia Biográfica dos Santos dos Últimos Dias: Uma Compilação de Esboços Biográficos de Homens e Mulheres Proeminentes em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias], 4 vols., Salt Lake City: Andrew Jenson History Co., 1901–1936, vol. 4, pp. 177–179. A família de Jennie insistiu para que ela voltasse por medo de que o clima úmido do inverno na Inglaterra causasse novamente a pneumonia que ela havia sofrido anteriormente (Orson F. Whitney, History of Utah [História de Utah], 4 vols., Salt Lake City: George Q. Cannon e filhos, 1904, vol. 4, p. 615).

  2. Whitney, History of Utah, vol. 4, p. 614.

  3. “Mrs. Jennie Brimhall Knight”, Relief Society Magazine 8, nº 7, julho de 1921, pp. 380–381; Whitney, History of Utah, vol. 4, p. 615.

  4. Lillian C. Booth, “Research Made during the Summer of 1956 on Matron, Dean of Women, and Counselor for Women” [Pesquisa feita durante o verão de 1956 sobre a diretora, reitora de mulheres e conselheira para as mulheres], vol. 1, pp. 7–8, Biblioteca de História da Igreja. A primeira diretora de mulheres no registro da Universidade Brigham Young foi Zina Presendia Young Card, que ocupou o cargo de 1879 a 1884. A Universidade, inicialmente chamada Academia Brigham Young, foi fundada em novembro de 1875 (Booth, “Research Made during the Summer of 1956” [Pesquisa feita durante o verão de 1956], pp. 1–2; Ernest L. Wilkinson, ed., Brigham Young University: The First One Hundred Years [Universidade Brigham Young: Os Primeiros Cem Anos], 4 vols., Provo, UT: Brigham Young University Press, 1975, vol. 1, p. 66).

  5. Inez Knight Allen, “Jennie Brimhall Knight”, Relief Society Magazine 15, nº 12, dezembro de 1928, p. 647. Depois de sua criação em agosto de 1916, o Conselho Nacional de Defesa pediu que cada estado criasse seu próprio Conselho de Defesa para ajudar a coordenar as atividades “para o bem geral da nação e para o prosseguimento bem-sucedido da guerra”. Em resposta, Utah criou um conselho de estado em 26 de abril de 1917. O governador Simon Bamberger criou o Comitê de Trabalho das Mulheres em 3 de agosto de 1917 para dirigir os trabalhos de guerra das mulheres; Jennie serviu nesse comitê (Noble Warrum, Utah in the World War: The Men behind the Guns and the Men and Women behind the Men behind the Guns [Utah na Guerra Mundial: Os Homens por Trás das Armas e os Homens e Mulheres por Trás dos Homens por Trás das Armas], Salt Lake City: Arrow Press, 1924, pp. 86–87, 121).

  6. Jennie serviu como conselheira da irmã Williams até sua desobrigação em outubro de 1928 e depois continuou no conselho até 1939 (Mary Jane Groberg Fritzen, Lucy Jane [Jennie] Brimhall Knight: An Expression of Love and Gratitude for Her Exemplary Life [Lucy Jane (Jennie) Brimhall Knight: Uma Expressão de Amor e Gratidão por Sua Vida Exemplar], Idaho Falls, ID: Delbert V. e Jennie H. Groberg, 1997, vol. 4, p. 42).

  7. Allen, “Jennie Brimhall Knight”, p. 647; Fritzen, Lucy Jane (Jennie) Brimhall Knight, pp. 42, 106.

  8. Fritzen, Lucy Jane (Jennie) Brimhall Knight, pp. 4, 105. A sobrinha-neta de Jennie escreveu em sua biografia que ela também contratou uma empregada doméstica e uma babá (Fritzen, Lucy Jane (Jennie) Brimhall Knight, p. 4).

  9. Este registro provavelmente foi escrito em setembro (Fritzen, Lucy Jane (Jennie) Brimhall Knight, pp. 48, 49).

  10. Fritzen, Lucy Jane (Jennie) Brimhall Knight, p. 49.

  11. Fritzen, Lucy Jane (Jennie) Brimhall Knight, p. 49; Allen, “Jennie Brimhall Knight”, p. 647.

  12. Doutrina e Convênios 64:10–11.

  13. O pai de Jennie, George Brimhall, foi reitor da Universidade Brigham Young de 1904 a 1921 (Wilkinson, Brigham Young University, 1, pp. 382, 519).

  14. Ver Mateus 18:21–35.

  15. Ver Mateus 6:12; Lucas 11:4 e 3 Néfi 13:11.

  16. O paternoster é o Pai Nosso, conforme registrado em Lucas, capítulo 11, e Mateus, capítulo 6. Uma versão dessa citação semelhante àquela que Jennie usou pode ser encontrada em J. R. Miller, The Golden Gate of Prayer: Devotional Studies on the Lord’s Prayer [A Ponte Golden Gate da Oração: Estudos Devocionais sobre a Oração do Pai Nosso], New York: Y. Thomas. Crowell, 1900, p. 185.

  17. William Shakespeare, O Mercador de Veneza, ato 4, cena 1, versos 192–193.

  18. Ver Mateus 18:3 e 3 Néfi 11:38.

  19. Doutrina e Convênios 64:9.